Aliado à tecnologia de ponta, material oferece pluralidade de aplicações, diminuindo o tempo de obra e minimizando os erros e desperdícios
À medida que a busca por soluções inovadoras e ecologicamente corretas ganha destaque, profissionais de arquitetura e engenharia têm se dedicado ao uso de materiais que sejam capazes de unir eficiência estrutural, estética refinada e respeito pelo meio ambiente. É nesse contexto desafiador que a madeira engenheirada se destaca, assumindo o papel de protagonista na transformação de projetos arquitetônicos contemporâneos.
A madeira engenheirada, como o próprio nome diz, é processada industrialmente a fim de otimizar o seu desempenho para uso na construção civil. O material pode ser transformado em pilares, vigas e lages, substituindo o concreto e o aço na construção de edificações estruturalmente mais leve, que demandam fundações menos profundas, com menor impacto no solo. Os projetos arquitetônicos vanguardistas não apenas adotam esse material, mas também o utilizam como peça-chave para redefinir os conceitos de arquitetura sustentável.
Há diferentes tipos de madeira engenheirada. Os mais conhecidos na construção civil é a CLT (sigla para madeira laminada cruzada, Cross Laminated Timber em inglês) e a MLC (sigla para madeira laminada colada, Glue Laminated Timber ou Glulam em inglês). Em linhas gerais, a CLT é um painel estrutural composto por no mínimo três camadas de tábuas empilhadas de forma perpendicular à camada inferior e coladas nas faces largas, sendo utilizado para construir lajes e paredes. Já a MLC é constituída por lâminas de madeira coladas umas às outras e dispostas com as fibras paralelas ao eixo longitudinal da peça, sendo utilizadas principalmente em vigas e pilares.
Uma das empresas que trouxe inovações neste segmento no Brasil é a Superlimão, cuja trajetória é marcada pelo uso da madeira engenheirada, um material que usa camadas de madeira maciça sobrepostas. Um dos mais recentes projetos do portfólio do escritório foi uma unidade da rede de fast food McDonald’s, localizada no bairro do Paraíso, em São Paulo. O empreendimento, que preza pela sustentabilidade em vários detalhes, traz uma síntese das convicções que norteiam os arquitetos do escritório.
Segundo os arquitetos a ideia surgiu de uma parceria com a Noatech, uma incorporadora especializada em captação, que atua como intermediária entre fornecedores de madeira engenheirada, escritórios de arquitetura e clientes. O projeto usa madeira projetada de cima a baixo, que é visível do lado de fora, por meio de paredes de vidro, construção que também permite visualizar todas as camadas da estrutura interna do local. “No segundo pavimento, pedimos à equipe da obra que criasse uma janelinha física, feita de vidro, revelando a composição das paredes. Queríamos que as pessoas pudessem ver, na prática, que não se trata apenas de um discurso, mas que o prédio é, realmente, construído inteiramente com madeira”, comenta Maria Fernanda Elaiuy, arquiteta e coordenadora de projetos do escritório.
Na prática, sua montagem se dá de maneira muito mais ágil e fácil, quando comparada aos métodos de construção tradicional, sendo essa uma das grandes vantagens do sistema. Tanto os painéis quanto vigas e pilares de madeira engenheirada são fabricados fora do canteiro e transportados para a obra com todos os detalhes pré-definidos para receber as instalações mecânicas, elétricas e hidráulicas, diminuindo o tempo de obra e minimizando os erros e desperdícios. A utilização da madeira engenheirada permite a construção por meio de encaixes, resultando em uma obra mais silenciosa do que o habitual, o que também minimiza o impacto sonoro.
O potencial da madeira engenheirada reside não apenas pela sua capacidade de reduzir a pegada de carbono, visto que a madeira absorve CO2 em vez de emiti-lo para a atmosfera, mas também pela flexibilidade no design arquitetônico, possibilitando a criação de estruturas como se fossem peças de Lego, tornando o processo construtivo mais ágil e eficiente. “É possível criar estruturas de maiores dimensões e explorar formatos mais inusitados, curvando e arqueando sem a necessidade de empregar um sistema complexo de diversas bitolas”, explica Maria Fernanda.
Além disso, essa tecnologia construtiva aliada a ferramentas digitais torna o processo ainda mais vantajoso, como é o caso da aplicação do sistema BIM (Building Information Modeling) que permite o desenvolvimento de um VDC (Virtual Design and Construction), ou seja, um modelo virtual que replica o processo construtivo permitindo que a obra seja estudada e analisada antes de iniciar no mundo real.
Embora muitas pessoas tenham a impressão de que há desmatamento envolvido, todo o processo é meticulosamente planejado para ser renovável, sendo o material proveniente de árvores cuja característica é de rápido crescimento, facilitando ciclos de vida mais curtos. Isso possibilita a renovação frequente da fonte, diferentemente de madeiras tradicionais, como cerejeira ou carvalho, que requerem décadas para atingir as dimensões necessárias para estruturas robustas. Ao contrário, na composição da madeira engenheirada, é possível incorporar rigidez durante o desenvolvimento da peça de maneira industrializada, sem depender do tempo de crescimento prolongado das árvores.
Além disso, o material tem sido também tem sido utilizado como caminho para recuperar e desenvolver as tradições de construção ancestrais em diferentes lugares do mundo, trazendo à tona uma interpretação contemporânea de um material presente nas arquiteturas vernaculares. Importante ressaltar que a prática de utilizar madeira na construção é atemporal e possui raízes históricas profundas, sendo a madeira engenheirada uma evolução sofisticada dessa tradição global.
Fonte: Archdaily e Habitabilit