Projeto totalmente sustentável de Tiny House foi idealizado e construído por Ricardo Delgallo para ser seu refúgio nas montanhas
Localizada no alto do Pico dos Marins, região da Serra da Mantiqueira, interior de SãoPaulo, a Tiny House projetada pelo arquiteto Ricardo Delgallo é a realização de um sonho, pautado em ter um local único e acolhedor, construído com as próprias mãos. O conceito de Tiny House, que significa ‘casa pequena’, nasceu nos Estados Unidoscomo opção de moradia sem luxo. É embasada no minimalismo, possui características peculiares entre as quais metragens pequenas como o próprio nome sugere – até 40 metros quadrados (m²) –, mas sem abrir mão do conforto e da praticidade de uma casa e, deve ser, em sua maioria, ambientalmente responsável.
Assim, o arquiteto tirou o projeto do papel e, literalmente, levantou uma Tiny House em meio ao sossego e beleza da mata atlântica. Com 20m² de ambiente, mais o espaço do deck com igualmente 20m², o projeto batizado de Tiny House Alto Marins é, além de inovador, uma experiência de arquitetura responsável. Com quarto, sala, cozinha e banheiro, a casa é completa, ideal para acomodar um casal e, fugindo do lugar comum das construções desse modelo mundo afora, o arquiteto não poupou na escolha dos materiais. Um dos destaques é a pia do banheiro esculpida em pedra da Indonésia cujo processo de seleção, corte e polimento foi todo artesanal. A pedra foi extraída de rios ‘temporários’ de ilhas vulcânicas da região.
Pisos, luminárias e demais itens, foram pensados a fim de criar uma estética rústica e oferecer uma experiência inovadora. Móveis, tanto externos quanto internos, foram projetados pelo próprio arquiteto, o que confere ainda mais exclusividade e sofisticação. Churrasqueira em aço corten, que oferece maior resistência à corrosão, e demais peças de mobiliário como mesas e cadeiras feitas em madeira, transformam o ambiente em um lugar único, confortável e aconchegante.
Um capítulo à parte, grandes janelas possibilitam a incidência de luz natural e oferecem vistas deslumbrantes para as montanhas. Outro destaque construtivo da Tiny House Alto Marins é o uso de madeira de demolição no revestimento interno, sendo utilizado a peroba rosa rústica. Também em madeira, o revestimento da parte externa recebeu a técnica japonesa Shou-sugi-ban que consiste na carbonização dessa matéria, garantindo qualidade, durabilidade e impermeabilidade, algo importante por se tratar de uma área que sofre diversos tipos de intempéries. Ainda na parte externa, uma das paredes da casa possui um jardim vertical, proporcionando mais frescor para seu interior e, além disso, deixa esse lado da estrutura praticamente camuflado em meio à mata.
Instalada a 1.500 metros de altitude, a Tiny House Alto Marins foi construída por apenas quatro pessoas. Ao todo, a obra demorou apenas 45 dias graças ao método construtivo de woodframe – sistema construtivo com montantes e travessas em madeira e considerado sustentável, pois é desenvolvido a partir da utilização de madeira reflorestada e tratada. Ricardo explica que esse tempo foi necessário, principalmente, por conta da localização. “Por ser uma região de alta montanha e devido à variação do tempo e logística – já que o terreno não possui energia, então tudo foi feito com gerador e ferramentas à bateria –, somou-se 45 dias trabalhados.” Vale ressaltar que a casa não utiliza nenhum tipo de energia a base de combustível fóssil. Ao contrário, o fogão cooktop, assim como o chuveiro, as luzes e demais equipamentos, se utilizam de energia solar off-grid cuja principal característica é o ‘autossustento’ que armazena energia solar em baterias.
A fim de evitar interferências na topografia original do terreno, a casa é sustentada por nove pilares e, para conseguir melhor conforto térmico, foi utilizado lã de vidro ecológico em toda a casa. Uma manta asfáltica garante a impermeabilização do telhado, e papel poliestileno instalado nas paredes externas, impede infiltração de água para seu interior, mas permite que a casa respire, criando uma atmosfera mais confortável.
Proteção e preservação são as palavras de ordem
A preocupação com o meio ambiente, fez o arquiteto e urbanista, investir no plantio de cerca de 350 mudas de árvores nativas e frutíferas, formando uma espécie de pomar próximo ao curso d’água para proteger e preservar a água que passa pelo terreno e que é utilizada para banho e demais usos. “Outras cerca de 130 árvores foram plantadas para enriquecer ainda mais o paisagismo por todo o terreno e ao
redor da casa”, explica Delgallo ao pontuar que essas árvores ainda serviram como uma cerca viva.
As ações que preveem o cuidado com o meio ambiente, chega à rede sanitária no qual o arquiteto usou um biodigestor para o tratamento de efluentes residenciais. Trata-se de um equipamento que acelera o processo de decomposição da matéria orgânica por meio da ausência de oxigênio. Desse modo, no biodigestor, o processo de biodigestão anaeróbia (ausência de oxigênio) é realizado, o que faz com que a matéria orgânica seja consumida, gerando esgoto tratado, lodo estabilizado e gás. É considerado uma solução bem inteligente, sustentável e efetiva de tratamento do esgoto doméstico. A prática impede a poluição do meio ambiente, ajuda a cuidar da higiene e é bem econômica.
Imagens: Thiago Farias