Documentários inéditos, abertura de exposição itinerante do Museu da Língua Portuguesa, lançamento de dicionário Xikrin-Português e outras atrações fazem parte da sexta edição do Indígenas.BR
Atualmente, existem mais de 305 povos indígenas no Brasil, com uma população total de cerca de 1,7 milhão de pessoas, de acordo com o Censo de 2022 do IBGE. Para criar pontes e diálogos com a pluralidade desse universo repleto de simbologia, e como celebração do 9 de agosto – Dia Internacional dos Povos Indígenas, o Centro Cultural Vale Maranhão, realiza a sexta edição do Indígenas.BR – Festival de Músicas Indígenas. Até 10 de agosto, uma programação que destaca a diversidade de músicas, línguas, danças, estilos e saberes dos povos originários leva para o centro do debate temas urgentes relacionados aos direitos dos povos indígenas.
Com curadoria da musicista e pesquisadora Magda Pucci e da jornalista e cantora Djuena Tikuna, o festival apresenta documentários inéditos de povos indígenas maranhenses, além de shows, abertura de exposição itinerante, lançamento de dicionário em uma língua indígena, desfile de moda originária e oficina de saber em extinção.
Em sua sexta edição, o festival desponta como um dos principais espaços de debate sobre cultura indígena no Brasil. “Desde as primeiras edições, pensamos o festival para ser uma constante dentro de nossa programação. É um espaço garantido para que os povos originários se expressem a partir da sua própria lógica de pensar e se relacionarem com o território em que vivem. O festival também é um instrumento de salvaguarda desses conhecimentos, já que conseguimos, para além das atrações ao vivo, gerar conteúdos e registros de memória”, afirma Gabriel Gutierrez, diretor do Centro Cultural Vale Maranhão.
Documentários inéditos de povos indígenas maranhenses
A celebração do Dia Internacional dos Povos Indígenas (9/8) será iniciado com a estreia do documentário Piraí – Os Cantos da Encantaria Akroá Gamella . O filme, produzido exclusivamente para o festival Indígenas.BR, conta com a direção de Djuena Tikuna e Diego Janatã e fotografia de Vinicius Berger. A obra mostra como os Akroá Gamella resistem na baixada maranhense em um processo de retomada coletiva pelo seu território e pela sua identidade enquanto povo indígena. Assim, seguem na cantoria da resistência, com a força dos encantados e na proteção de João Piraí, o pai desse lugar de encantaria.
O Festival também traz Ka’apor – Guardiões dos Cantos e da Floresta, também dirigido por Djuena Tikuna e Diego Janatã, com fotografia de Vinicius Berger. O documentário mostra pássaros e cantos que não se calam na Amazônia maranhense, território dos guardiões da floresta, moradores da mata, os Ka’apor. As cantorias ecoam pela terra indígena Alto Turiaçu e, durante os rituais de nominação, regados a muito cauim, também é possível ouvir os raros apitos de canela do gavião real e o repenicado dos tambores de cedro escavado, coberto com couro de guariba. O pajé, com seu cigarro de tawari e resina de breu, seu canto em transe e o maracá hipnótico, convoca os Karuwara, após uma viagem ao cosmos indígena, em busca dos espíritos que curam e, desde sempre, guardam a floresta, morada dos Ka’apor.
O lançamento de documentários de povos maranhenses produzidos pelo CCVM são uma tradição do festival Indígenas.BR e encorpa o acervo da videoteca do Centro Cultural Vale Maranhão, que tem grande histórico de produções audiovisuais indígenas disponível no site https://ccv-ma.org.br/videoteca
Sobre a programação presencial
- Exposição itinerante do Museu da Língua Portuguesa
Encerrando o festival, no dia 10 de agosto, será aberta ao público a exposição Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação, realizada pelo Museu da Língua Portuguesa, com correalização do Centro Cultural Vale Maranhão e articulação e patrocínio máster do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet.
São Luís será a terceira cidade brasileira a receber a exposição sobre línguas indígenas do Brasil, que propõe um mergulho na história, memória e realidade atual dos idiomas dos povos originários do Brasil, através de objetos etnográficos, arqueológicos, instalações audiovisuais e obras de arte. A exposição busca mostrar outros pontos de vista sobre os territórios materiais e imateriais, histórias, memórias e identidades desses povos, trazendo à tona suas trajetórias de luta e resistência, assim como os cantos e encantos de suas culturas. A curadoria é da artista indígena e mestre em Direitos Humanos Daiara Tukano, e a cocuradoria é da antropóloga Majoí Gongora.
Uma das novidades da itinerância em São Luís são os objetos coletados em sítios arqueológicos do Maranhão que pertencem ao acervo do Centro de Pesquisa e História Natural e Arqueologia do Maranhão, do Museu Casa de Nhozinho e do próprio Centro Cultural Vale Maranhão.
- Lançamento de dicionário Xikrin-Português
Para marcar o Dia Internacional dos Povos Indígenas, a Vale e o Instituto Indígena Botiê Xikrin (IBX) apresentam o Dicionário Ilustrado Xikrin-Português. A obra, que está alinhada aos compromissos da Ambição Social da Vale de apoiar os indígenas no acesso aos seus direitos, reúne cerca de 400 verbetes em quatro livros digitais e tem o propósito de auxiliar como material didático e em pesquisas de alunos e professores de escolas da Terra Indígena Xikrin do Cateté, no Pará. O lançamento acontece na inauguração da exposição Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação.
Compartilhamento de saberes em extinção
O arco de boca Kaingang é longo e com uma curvatura suave, quase reto. No Dia Internacional dos Povos Indígenas, será realizada a oficina Arco de Boca Kaingang, onde saberes relativos a esse raro instrumento serão compartilhados com pessoas de gerações mais novas, interessadas em fortalecer os saberes ancestrais do povo Kaingang. Gomercindo Salvador Kanhgág é o único ancião que ainda toca o instrumento, o que torna essa troca de experiências ainda mais necessária e urgente.
“As músicas e performances desse festival são reflexos das jornadas de pessoas indígenas que revelam suas formas de pensar a respeito de territórios, corpos e ancestralidades. Cada canto nos conduz pelos caminhos percorridos por essas pessoas, que foram guiadas por suas próprias histórias, mostrando um modo único de habitar o mundo. O Indígenas.BR – Festival de Músicas Indígenas é uma celebração dessas vozes e sons que carregam a essência de comunidades inteiras, oferecendo uma experiência imersiva e transformadora, permitindo que todos nós, ouvintes e participantes, possamos compartilhar e aprender com a sabedoria ancestral que ressoa em cada canto”, explica a curadora Magda Pucci.
Música indígena ecoa no Teatro Arthur Azevedo
A abertura do festival contou com a apresentação da cantora Djuena Tikuna que recebeu convidados para o espetáculo Torü Wiyaegü, um ritual de resistência ancestral que traz as canções do último álbum da artista, lançado em 2022.
O show contou com a participação especial de alguns dos artistas que também compõem a programação do festival, como o tradicional grupo Wotchimaücü, artistas indígenas do povo Ka’apor, Akroá Gamella, do povo Tikuna e uma projeção mapeada assinada pela artista visual Roberta Carvalho. Também se juntaram à Djuena a cantora paraense Aila e as maranhenses Flávia Bittencourt e Emanuele Paz. Ao longo dos dias de festival, também se apresentarão no CCVM grupos das etnias Kaingang Nẽn Ga (PR) e Gavião (MA), e o DJ Eric Terena (MS).
O Indígenas.BR – Festival de Músicas Indígenas é gratuito. Toda a programação é realizada no Centro Cultural Vale Maranhão, que fica localizado na Rua Direita, nº 149, Centro Histórico de São Luís.
Serviço
O quê: Indígenas.BR – Festival de Músicas Indígenas
Quando: 7 a 10 de agosto
Onde: CCVM – Rua Direita, nº 149, Centro Histórico