Em bate papo proposto e mediado pela CM, profissionais da arquitetura e do design de interiores dialogam sobre os principais critérios considerados ao especificar revestimentos de madeira para diferentes projetos.
Revestimentos de madeira, com sua variedade de tipos e aplicações, oferecem uma forma sofisticada e aconchegante de transformar e enriquecer os espaços. Versátil na arquitetura e no design de interiores devido à sua beleza natural, durabilidade e capacidade de adicionar calor e elegância aos projetos, o fato é que atribuem atmosferas únicas aos ambientes, além de agregar valor ao imóvel.
No dia 10 de setembro, a CM reuniu um grupo de profissionais, entre arquitetos e designers de interiores, para dialogar abertamente sobre novas abordagens no uso da madeira em projetos arquitetônicos modernos, discorrendo sobre pautas como tendências em revestimentos de madeira; sustentabilidade e proveniência; a influência do material no comportamento térmico e acústico de um ambiente; as vantagens do revestimento de madeira natural em comparação com alternativas como porcelanatos, pisos laminados ou vinílicos; e quais os principais critérios considerados ao especificar revestimentos de madeira para diferentes áreas de um projeto, observando desempenho e manutenção.
O encontro ocorreu em São Paulo, na Indusparquet, empresa referência em pisos e revestimentos de madeira de ampla jornada sustentável, que recebeu os convidados com um receptivo café da manhã. Após o bate papo com os profissionais, mediado pelo diretor da Casa e Mercado, Renato Marin, a marca apresentou um pouco sobre sua história e destacou alguns produtos e soluções de alta qualidade e desempenho, já reverenciados pelo mercado. “Hoje, a tarefa dos arquitetos e designers de interiores não é simplesmente pensar espaços funcionais e adequá-los aos interesses de seus clientes, mas constantemente fazer decisões, o que eu chamo de ataque tecnológico: a especificação. Nós entendemos que os profissionais são integradores de sistemas e nossa intenção não é somente informar o setor, mas fazer uma volta às origens da conversa, em roda, e entender para onde vai o mercado e de que modo os profissionais estão explorando as soluções existentes e elaborando seus projetos”, esclarece Renato.
Por que especificar revestimentos de madeira?
Dentre os temas propostos por Renato, investigar sobre os critérios de escolha e aplicabilidades reais por parte dos profissionais esteve em destaque. O aspecto ecológico e sustentável da madeira foi amplamente abordado, trazendo à tona assuntos como durabilidade e longevidade, desempenho térmico e eficiência energética, design biofílico e preservação ambiental, na seleção de madeiras de fontes certificadas e na possibilidade de recuperação, reconstituição e reciclagem do material.
Lembrando que a madeira é um recurso natural que armazena carbono durante seu crescimento, Fulvia Fiore, arquiteta na EMDA Studio, comenta: “Como a madeira captura carbono ao longo do seu ciclo de vida, ela é um material sustentável, renovável, muito mais sustentável que o concreto, por exemplo”. Já a designer de interiores Daniela Colnaghi destacou como a matéria prima pode aconchegar e, ao mesmo tempo, atribuir valor. “A madeira é um elemento natural que valoriza demais o imóvel do cliente e ele entende isso”, comentou.
“Além de tudo que podemos apontar a seu favor, acho importante destacar que a madeira é uma matéria viva, que ao longo do tempo também vai se transformando, evoluindo naturalmente com a casa, trocando de cor”, destacou a arquitetura Alessandra Riera, da Ar.kitekt. Sob o viés do design biofílico, a arquiteta Alessandra Ruiz, da LP + A Arquitetura, pontua que cada vez mais se faz necessário inserir elementos naturais nos ambientes residenciais e corporativos e que isso é uma tendência: “Trazer a natureza para dentro destes espaços traz benefícios à nossa saúde e ao nosso bem-estar. Agrega muito e compõe um resultado muito benéfico ao ser humano”. Incrementando o tema, a arquiteta Juliana Miranda acrescentou a neuroarquitetura nesta análise: “É importantíssimo termos a madeira natural, sua referência de cores, toque, cheiro, é algo extremamente confortável e aconchegante para o nosso cérebro, principalmente nos dias atuais”, comenta Juliana.
Ainda sobre o tema, o arquiteto Guilherme Meneses, da Perkins&Will, sinaliza: “Hoje em dia temos uma vida muito plástica. Especificar um material natural é permitir que a casa nos acompanhe ao longo dos anos e envelheça com a gente”. Complementando, Alessandra Riera explica que é importante conscientizar o cliente de que o produto natural desempenha muito melhor que outros materiais a longo prazo. “É nosso papel explicar que a madeira é um elemento vivo, que ela vai marcar, e que isso é bonito, transparece seu uso. Além disso, o revestimento natural pode ser reconstituído”, comenta.
Há resistências na especificação de revestimentos de madeira?
Outro destaque do bate papo foi o diálogo que se estabeleceu sobre as resistências que os profissionais encontram ao propor revestimentos de madeira junto aos clientes, seja em projetos residenciais, corporativos e institucionais, pequeno ou de grande porte. Para projetos residenciais, um ponto bastante comentado foi a necessidade de reeducar os clientes do ponto de vista cultural e transformar seus conceitos pré-concebidos sobre o uso da madeira. “Nas redes sociais tudo se apresenta de forma muito estéril e é uma estética que está ali, sendo difundida todos os dias, as pessoas acabam sendo bombardeadas por essa referência. Além de termos que conscientizar o cliente, é preciso lutar contra essa corrente”, comenta Fulvia Fiore.
Nos projetos corporativos e institucionais, assim como espaços públicos de grande circulação, a manutenção e a aplicação técnica foram apontadas como principais resistências. “Há uma resistência técnica. Hoje temos uma questão de execução de obra que é gerar um impeditivo. Quando propomos uma solução, o primeiro feedback é “não dá para fazer”. É preciso ir atrás dos meios e mostrar que dá para fazer, trazer o possível. É preciso tratar essa resistência que se alimenta do princípio de que o artificial é o mais prático e rápido, consequentemente melhor”, esclarece Guilherme Meneses. De acordo com Ana Palotta e Raphael Matias, da Triptyque, em projetos para incorporadoras o orçamento é a principal resistência. “Nas áreas comuns de incorporações, por exemplo, orçamentos barram a especificação do revestimento em madeira natural. Mas como a estética agrada, procuram aplicar produtos de aparência semelhante”, comentam.
Mesmo em projetos residenciais, as ideias pré-concebidas sobre revestimentos de madeira também resistem à especificação. “Em casa de veraneio, onde o cliente quer exclusivamente descansar, ele se preocupa com a manutenção. Aqui é preciso explicar que toda casa é um organismo vivo, ela precisa de manutenção periódica como um todo”, explica Guilherme Alonso de Souza, da Raiz Arquitetura.
De acordo com os profissionais da Indusparquet que estiveram presentes no bate papo, é necessário estudar o local de aplicação e definir qual a madeira e acabamentos apropriados para aquele local, observando que uma especificação cuidadosa impacta diretamente a manutenção posterior. A marca apontou também a longevidade do material como uma qualidade a ser considerada pelos clientes. “O cliente investidor entende isso, ele prefere a madeira. Ele sabe que ali está estrando um valor agregado”, sinaliza Adriana Weichsler, arquiteta da Pro.a Arquitetos.
Voltando ao próprio usuário da edificação, ele acata a especificação com facilidade?
Segundo a arquiteta Viviane Saraiva, também da Pro.a Arquitetos, muitos clientes chegam pedindo o revestimento de madeira, mas é preciso desde o começo entender a verba e procurar trazer clareza às escolhas do cliente. “Sempre que possível sugerimos e defendemos o uso de materiais naturais. É preciso certa inteligência na administração de tudo, desde o interesse do cliente à aplicação. A gente acaba precisando entender também de engenharia, de outras técnicas para justificar os usos, que a longo prazo vale o investimento”, pontua Viviane.
Os profissionais comentam que muito do interesse pessoal dos clientes já é conversado no início do projeto e que nem sempre há liberdade para sugestões, mesmo que eles não tenham clareza total do que querem. “No briefing buscamos saber o que o cliente mais gosta, lidamos com o sonho. As vezes eles trazem uma coisa, e assim vamos organizando o que desejam”, sinaliza Juliana Miranda.
Guilherme Meneses trouxe à roda um ponto interessante sobre como o mesmo cliente pode fazer escolhas diferentes de acordo com a finalidade de uso do imóvel em si: “Por exemplo, para um mesmo cliente, projetando a casa dele e o escritório dele, são espaços e decisões completamente diferentes. O conceito é diferente, os materiais que ele quer ali são diferentes. A madeira dialoga com a nossa memória afetiva, a chance de ela ser aplicada na casa e não no escritório deste cliente, é maior. A não ser que ele queira, propositalmente e conscientemente, trazer elementos que resgatem memórias afetivas para o escritório”, comenta. Confirmando este comparativo, o arquiteto Gabriel Parede, da EMDA Studio, explicita: “No residencial é mais fácil de dialogar com o cliente, a clínica deste cliente não é a casa dele. Na casa dele ele está mais disposto a investir em produtos mais nobres”.
De acordo com a arquiteta Carolina Paula de Castilho, da Freijó Arquitetura, os projetos residenciais precisam propor aconchego, ser um lugar de reabastecimento: “Para nós o importante é saber como o cliente se sente lá dentro. É sensação, porque é casa. Nos parece que as redes sociais forçam um pouco as pessoas a esquecerem da sensação de acolhimento que um lar deveria ter e focar só na aparência, para que o ambiente fique bem na foto, seja instagramável”, esclarece Carolina.
Importante destacar que há sim clientes conscientes que sabem diferenciar materiais, suas propriedades, e que tem a qualidade como fator decisivo para sua escolha. “Mesmo se o cliente optar por um vinílico ou porcelanato que imite a madeira, um bom produto, de qualidade, não é barato. Em termos de orçamento, isso também justifica o uso do revestimento de madeira natural. Estou finalizando um imóvel em que o cliente ponderou a questão e exigiu que eu não trouxesse nada “parecido com madeira” ao projeto, ele optou pelo material verdadeiro”, pontuou a arquiteta Silmara Lanatovitz.
A indústria oferece apoio e conhecimento necessário para que vocês possam justificar a especificação? A aplicabilidade é um problema ou não?
“Costumo pedir aos fornecedores que me preparem, para que eu possa explicar ao cliente todos os diferenciais. É preciso este amparo, esta formação e que isso exista em um diálogo mais direto com os escritórios”, comenta Adriana Weichsler. De acordo com Daniela Colnaghi, quando o cliente tem maior percepção do produto, ele mesmo busca se inteirar mais: “Mas no quesito mais técnico dos produtos, a indústria precisa nos dar este respaldo, orientação”, explica.
A Indusparquet fez questão de informar aos convidados que é de grande interesse da marca manter contato direto e dar todo o suporte necessário aos profissionais, visitando ou recebendo escritórios, oferecendo treinamentos e até auxiliando na especificação e orientação de produto para determinados espaços e projetos. “É muito interessante que a gente possa ter informações técnicas de aplicabilidades, manutenção. Um ponto muito importante é a correta instalação. As vezes adquirimos um produto maravilhoso que mal instalado apresenta péssimo desempenho, levanta, estraga”, reforça Alessandra Riera.
Sobre aplicabilidade, a arquiteta Gigi Gorenstein dividiu com o grupo uma problemática que enfrentou no quesito aplicação recentemente: “A umidade do contrapiso nunca chegava ao ponto adequado. Em determinado momento, se fez necessário aplicar o impermeabilizante, um custo a mais que o cliente não estava contando. É preciso explicar para o cliente tudo que pode ocorrer logo no início no processo, para que ele não se frustre”, esclarece Gigi.
De modo a minimizar problemas como este, a arquiteta Viviane Saraiva acredita que hoje em dia é função do profissional entender sobre a tecnologia do produto e o que implica aplicá-lo. “Temos um case com a própria Indusparquet, de um cliente que veio para a loja e acabou fechando pisos multistrato. Fomos orientadas durante todo o processo e tivemos que aprender toda uma metodologia de conferência com a Indusparquet, eles estão realmente preocupados com o processo de ponta a ponta e ofereceram todo o suporte”, revela Viviane.