Instalação do Studio MEMM na 19ª Bienal de Arquitetura de Veneza reflete sobre o papel da escrita na arquitetura
Studio MEMM, liderado pelo arquiteto Marcelo Macedo, está na 19ª Exposição Internacional de Arquitetura – Bienal de Veneza 2025. Com a instalação imersiva “Momentos”, Marcelo convida os visitantes a uma reflexão profunda sobre o futuro da arquitetura em um mundo dominado por imagens.
A exposição, que ocorre até 23 de novembro na mostra “Time Space Existence”, é uma extensão espacial do livro de Marcelo Macedo, “Últimos Escritos e o Infinito da Arquitetura”. Ambos os projetos exploram uma inquietação central: o que acontece com a escrita e para onde caminha a arquitetura se deixarmos de escrevê-la?
Ao longo da história, foram os escritos que impulsionaram a evolução da disciplina — textos que refletiram, teorizaram, confrontaram. Mas hoje, a comunicação arquitetônica parece cada vez mais ancorada na estética e na instantaneidade. Momentos nasce como um alerta e, ao mesmo tempo, um convite: voltar a escrever é também voltar a sentir. A instalação se desdobra em dois momentos distintos, cada um refletindo um estado da experiência contemporânea:
No primeiro momento, o visitante observa palavras que flutuam no espaço, envoltas em uma atmosfera contemplativa. É um campo visual que evoca o mundo das redes sociais — das frases soltas, dos cenários fotografáveis, da leveza que paira sem necessariamente se aprofundar. Aqui, o olhar predomina. A arquitetura é quase imagem. Mas então se atravessa um limiar.
No segundo momento, o corpo é convocado. É preciso abaixar-se para entrar, tocar, escutar o espaço. A arquitetura se torna experiência plena: matéria, luz, temperatura, escala. Para o arquiteto, esse percurso propõe uma resposta: que a escrita nasce do sentir. Para o visitante leigo, revela-se uma certeza silenciosa — que arquitetura não se reduz à imagem.
Entre esses dois momentos, a instalação constrói um tempo de pausa, um intervalo de reflexão. Um lembrete de que o projeto arquitetônico começa antes do desenho, e continua além da fotografia. E que, talvez, escrever sobre arquitetura seja hoje um ato de resistência — e de reinvenção.