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Waste-to-Energy – Gestão de resíduos

Setor de reaproveitamento energético de resíduos contribui para a diminuição dos gases de efeito estufa

 

O Núcleo Waste-to-Energy da BW Expo, Summit e Digital 2020 promoveu uma programação intensa de palestras que mostrou a importância desse setor para a conservação do meio ambiente. Peter Kurth, presidente da Federação Europeia de Gestão de Resíduos e Serviços Ambientais (FDE), que apresentou números do segmento no continente e fez uma avaliação sobre o posicionamento europeu sobre o Green Recovery e a economia circular. “O WTE é essencial para gestão de resíduos na união europeia e exerce um importante papel no tratamento de resíduos não recicláveis. Sem dúvida, é chave para proteção climática por diminuir a emissão gases de efeito estufa e por contribuir para a descarbonização do planeta”, disse na abertura da programação.

A segunda palestra foi ministrada por Flavio Matos, desenvolvedor de projetos do CNIM – Constructions Industrielles de la Méditerranée, que apresentou uma série de dados que comprovam a viabilização de projetos Waste-to-Energy (WTE). Em suas considerações finais, sugeriu que sejam criadas condições econômicas adequadas para viabilização de usinas de tratamento térmico, através da oferta de tarifas de eletricidade da ordem de 700R$/MWh, especificas a esta tecnologia. “Este valor poderia ser aplicado para plantas de menor porte, e de forma regressiva, conforme capacidade de tratamento de RSU, chegando a cerca de 550R$/MWh para plantas de maior porte”. Além disso, ele ponderou que o complemento da receita necessária para viabilizar usinas WTE poderia vir de uma adicional tarifa de tratamento (gate fre) a ser pago por meio de tarifa na conta de consumo conjunta ou espelhada em ouros serviços públicos, como a conta de água.

Daniel Sindicic, CEO do Grupo LARA, apresentou um dos maiores projetos de usinas de waste-to-energy do mundo, a Usina de Recuperação Energética Mauá, instalada em uma área de 90 mil m², cuja capacidade será de processar 3 mil toneladas de resíduos e gerar até 80 MW de energia. Uma das conquistas da usina é que o fornecimento de componentes, equipamentos e materiais é cerca de 90% nacional. “Estamos utilizando o que há de melhor em termos de tecnologia para favorecer a sustentabilidade do meio ambiente e, principalmente, foi uma decisão correta na forma de gestão dos nossos resíduos. A usina não interfere nas atividades de reciclagem e programas ambientais”, disse Sindicic. O projeto atende os padrões de emissão e de qualidade do ar e vai impactar de forma positiva a região, com a criação de novos empregos e a geração de energia elétrica.

Na sequência, Athaydes Leite, CEO da PlaNET Brasil, falou sobre a Elaboração de Projeto Econômico-Financeiro de Tratamento Biológico, trazendo modelos de negócios que comprovam a viabilidade desse tratamento. Contudo, ele afirma que a  elaboração de um modelo econômico-financeiro para um projeto de tratamento biológico depende de várias variáveis, incluindo o tipo de resíduo utilizado.  Outros dois pontos ressaltados por ele é que os parâmetros de processo são fundamentais para determinar a viabilidade dos projetos bem como a analise empírica é essencial para assegurar o sucesso de implementação do projeto.

 

Potencial

Para Amaro Pereira Júnior, professor de Planejamento Estratégico da COPPE/UFRJ, existe um grande potencial de mercado no Brasil para o aproveitamento energético de resíduos. “O Brasil é país continental e cada região produz uma variedade de tipos de biomassa que podem contribuir nesse processo. Ademais, temos resíduos que estão sendo desperdiçados ao serem simplesmente descartados”. Como exemplos estão: a produção de 45 milhões de pneus por ano, do qual 20 milhões são descartados, a produção de 1,6 milhão de resíduos derivados do coco e 1,5 milhões de equipamentos eletroeletrônicos descartados por ano. A grande disponibilidade de recursos somada a capacitação técnica nacional possibilita instalar usinas que favorecerão a geração de emprego e renda; “O aproveitamento energético de resíduos é um potencial que não se pode descartar”.

Em sua palestra, o engenheiro químico André Wagner Andrade fez um breve histórico sobre o lixo e trouxe aspectos qualitativos e quantitativos dos resíduos. Segundo ele, qualquer prática ou tentativa de execução de um sistema integrado de resíduos sólidos será falho, incompleto ou de eficiência duvidosa se não houver processos dinâmicos e contínuos de caracterização dos resíduos gerados. Ele também enfatizou que a recuperação energética é vital e necessária, assim como a disposição final de aterros deixa um passivo para gerações futuras. “Para deixarmos um legado justo para o futuro, a integração entre sistemas de não geração, redução, reutilização, reciclagem e recuperação energética de nossos resíduos deve ser uma prioridade”.

Patrícia Donaine, membro do Grupo de Experts do WtERT Brasil, salientou como os impactos e prejuízos ambientais são incalculáveis. “Existem diversos os elementos químicos em risco de escassez nos próximos 100 menos, o que significa que a busca por uma eficiência melhorada não resolve o problema”, disse. “Os recursos são finitos, por isso é necessária uma mudança completa no sistema, no qual a cultura de consumo e descarte deve passar a ser como consumo regenerativo”, acrescentou. Nesse sentido, Patrícia estava se referindo a implantação da economia circular, cuja a premissa é o lixo zero. “Os resíduos deixam de existir, há uma transformação no design do produto e questionamentos sobre os insumos e sua durabilidade”.

 

Financiamento

Para trazer detalhes sobre o financiamento de usinas WTE, foi convidado para ministrar a palestra no Núcleo, Humberto Bizerril Gargiulo, sócio e fundador da Upside Finance, que ressaltou alguns dos principais desafios nessa área. Uma delas está ligada a venda de energia, que pode ser feita por geração distribuída. “O problema é a limitação de apenas 5MW, além de não haver qualquer tipo de benefício fiscal e o marco regulatório não está consolidado”. Por isso, ele sugeriu a criação de um mercado livre de baixa tensão, que pode ser enquadrado como projeto prioritário, usufruindo de benefícios fiscais.

Na avaliação de Gargiulo, o cenário mercadológico representa outro risco porque ainda é preciso elaborar um marco regulatório com regras mais claras, que garantam 100% de entrega do lixo à usina WTE e a desativação dos lixões e aterros sanitários junto com o cancelamento gradual de suas licenças ambientais.

Outro tema tratado foi licenciamento ambiental em usinas de recuperação energética (URE). “A primeira licença (licença prévia – LP) é a mais importante, tendo em vista suas características gerais e por demonstrar a viabilidade ambiental do empreendimento, aprovando sua concepção e sua localização, dentre outros aspectos envolvidos no licenciamento ambiental”, disse José Mateus Bichara, diretor técnico da Atmosplan Engenharia e Consultoria Ambiental.

Sobe o Estado de São Paulo, ele mencionou que existe uma regulamentação que possibilita a emissão de uma Licença de Operação a Título Precário (LOTP), que permite o funcionamento integral do empreendimento, objetivando verificar aspectos operacionais e a eficiência dos sistemas de controle estabelecidos, por meio de um programa de avaliações e monitoramentos e para eventual emissão da Licença de Operação (LO).

Josmar Pagliuso, professor da Universidade de São Paulo, traçou comparativos entre os quatro principais processos disponíveis ligados as plantas de wte: combustão (incineração), gaseificação, pirólise e coprocessamento. Ele apontou os fatores que são importantes para a escolha de uma dessas rotas, como a capacidade, necessidade de pré-tratamento do resíduo, geração de produtos e subprodutos,  investimento, área, complexidade operacional e maturidade tecnológica, confiabilidade e disponibilidade. “A pirólise, por exemplo, é mais adequada para a produção de insumos que de energia elétrica, geralmente o gás produzido é consumido no próprio processo, e a recuperação indireta de energia é feita através do “óleo”.

A penúltima apresentação do Núcleo Waste-to-Energy foi ministrada por Julien Dias, professor da ISAE/FGV, que tratou da viabilidade econômico-financeira de projetos de recuperação energética de resíduos. Ele elencou quatro critérios para a análise de viabilização do projeto: estudo de viabilidade econômico-financeira como validação do planejamento estratégico; investimento e fontes de recursos; análise de viabilidade sob a ótica do investidor e análise de viabilidade sob a ótica do financiador. De acordo com usa explicação, a viabilidade econômica de projeto de infraestrutura é baseada em um tripé (receita, tecnologias & insumos e taxa de retorno), que permite maximizar a alavancagem e a rentabilidade dos ativos. “É preciso identificar bem as receitas, ter uma tecnologia comprovadamente testada, garantir a entrega de insumos no longo prazo e buscar uma taxa de retorno equilibrada”, acrescentou Dias.

Por fim, o advogado Tiago Trentinella, pesquisador da Universidade de Osaka, no Japão, ministrou a palestra Burn Them all?  An Introduction to waste incineration law in Brazil and Japan. Em suas conclusões, ele ponderou que mesmo tendo regulamentações equivalentes, o Japão incinera mais e recicla mais, enquanto o Brasil enterra mais e recicla menos. “É preciso mudar a maneira de pensar sobre essa questão no Brasil, uma vez que existe um conceito de que se houver a queima de resíduos, os catadores não terão mais empregos. Mas, isso não é verdade, não haverá a exclusão da reciclagem, da coleta seletiva com a implementação dessas usinas. A questão principal é que falta espaço para a construção de aterros sanitários no país, então, não podemos prescindir de alternativas viáveis para o desafio dos resíduos”, comentou

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: BW
Imagem: Divulgação

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