35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada e dados apontam que 39% da água tratada é perdida em seu processo de distribuição, por conta de vazamentos e ligações ilegais.
Claro, sistemas prediais devem garantir funcionamento e operacionalidade das edificações ao longo de sua vida útil. E, a partir de tecnologias definidas quando da concepção do projeto de arquitetura, maior ou menor conforto aos usuários.
Pode-se hoje especificar dezenas de sistemas: a gás, água fria ou quente, até mesmo gelada (filtros de água), esgotos sanitários, alarmes, exaustores, portas automáticas, telefonia, TV a cabo, internet, condicionamento de ar, segurança contra intrusão e circuitos fechados de TV, automações várias e várias. A definição de sistemas a serem disponibilizados deve estar adequada ao tipo de edificação que se pretende construir e a seus usuários.
Sim, há avanços consideráveis no País nas áreas diversas que compõem os sistemas prediais. Em hidráulica, por exemplo, surgiu uma série de tecnologias a partir de compromissos saudáveis com relação à economia e à racionalidade do uso da água, os quais impactam positivamente no meio ambiente: sistemas de individualização de registros de água, válvulas e descarga com duplo fluxo, bacias sanitárias com caixa acoplada, arejadores para torneiras, restritores de vazão, operações ecoeficientes como a instalação de reservatórios para captação pluvial e reuso da água etc.
Mas consideremos nosso País e suas várias humanidades, tão socialmente desigual: problema maior é o acesso universal e equitativo à água e ao saneamento. “O uso ineficiente, a degradação da água pela poluição, a superexploração das reservas de água subterrâneas, atividades agrícolas e industriais que se expandem cada vez mais já alteraram o ciclo hidrológico global”, escreveu Náiade Nunes, editora de Casa e Mercado, em edição de 2020.
De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS 2019), 83% dos brasileiros são atendidos com abastecimento de água tratada. Ou seja, em torno de 35 milhões de nossa população não têm acesso a esse serviço. E dados do Instituto Trata Brasil apontam que 39% da água tratada no País é perdida em seu processo de distribuição, por conta de vazamentos em tubulações e, ainda, por conta de ligações ilegais.
Quanto ao saneamento básico, somente em torno de 54% da população brasileira é atendida com rede de coleta de esgoto. Pasmem: em torno de 100 milhões de pessoas no País não têm acesso a esse serviço e, destes, em torno de 13 milhões são crianças e adolescentes. E somente 46% dos esgotos gerados são tratados.
Fernando Franco, presidente da Associação Brasileira de Agências de Regulação – ABAR, diz que “o Brasil que a gente quer em 2033 é um país onde o abastecimento de água e a coleta de esgoto sejam um direito universal. Para isso, precisamos avançar na ampliação dos serviços e na redução do índice de perdas, o que requer investimentos significativos”. Ressalta-se que a meta para 2033 prevê que 99% da população tenha água tratada e 90% tenha seus esgotos coletados e tratados.
Produtos e programas vem sendo desenvolvidos por empresas atendendo a compromissos socioambientais. A TAE, por exemplo, empresa do grupo Tigre, uma transnacional brasileira, desenvolveu a unidade Unifam, uma estação de tratamento de esgoto unifamiliar para instalação em espaços reduzidos, e a BlueBox. “Com a Unifam e com a BlueBox, o modelo de manutenção e o consumo energético da unidade são reduzidos e há possibilidade de descarte na rede de drenagem apontando para o modelo de descentralizado de saneamento”, ressalta Ewerton Pereira Garcia, diretor da TAE – Tigre Água e Efluentes.
“O produto atende a uma demanda socioambiental de tratamento de efluentes, especialmente em comunidades distantes ou com menos recursos; portanto, uma importante solução para o tratamento de esgotos residenciais, que garante alta eficiência, reduzindo custos operacionais, trazendo economia e reaproveitamento da água”- Ewerton Pereira Garcia, diretor da TAE.
Em face desse enorme contingente de brasileiros sem acesso à rede coletora de esgotos, Ewerton acrescenta que “atender a esse desafio envolve disponibilizar unidades de tratamento cada vez menores com potencial para substituir fossas sépticas e biodigestores, contribuindo para a ampliação do saneamento básico. Neste contexto, com dimensões reduzidas, a estação faz o tratamento biológico aeróbico em sistema de lodos ativados e tem eficiência superior a 90% nos parâmetros físico-químicos e microbiológicos, o que supera os padrões exigidos pelas normas do setor”.
Banheiro Seco: um contraponto
Tecnologia enquanto sistema alternativo de saneamento, o banheiro seco pode também ser uma solução a diversos problemas relativos ao saneamento público, como a contaminação do solo e da água. Caracteriza-se, basicamente, por não utilizar água em seu sistema e produzir insumos para fertilização de plantações e de agroflorestas.
Há diversos modelos possíveis de construção. O projetado pela arquiteta Irina Biletska para o Instituto Inkiri (www.inkiri.com), Piracanga, na península de Maraú, sul da Bahia, é um deles. Partiu de um conceito simples: propiciar à comunidade local, cerca de 150 pessoas, e aos em torno de 2 mil visitantes ano, uma alternativa ecológica de saneamento em sua ecovila. O projeto “nasceu de um pedido da comunidade Inkiri, que buscava inserir para a comunidade e visitantes uma alternativa ecológica de saneamento; foi através desse banheiro que conseguiram mudar alguns paradigmas em relação ao assunto, pois quando as pessoas chegam se deparam com um espaço bonito, agradável e limpo, que reeduca os usuários com um uso diferente e consciente, além de preservar os lençóis freáticos da região, que são muito próximos ao solo”, diz Irina.
Os vários modelos são opções adaptáveis a cada situação e para performances ambientais de moradia e mesmo de espaços públicos. Uma resposta, enfim, aos muitos problemas que grande parte dos brasileiros ainda convive.
Também projetados por Irina, outros banheiros foram construídos com o método de termo compostagem, o qual possui, como princípio básico, o uso do calor para combater os patógenos.
Por Redação
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