Redução das emissões de poluentes à atmosfera e melhora do ar é efeito colateral da pandemia COVID-19.
Ironicamente, a pandemia do COVID-19 (Coronavirus Disease 2019) vem causando impacto positivo na luta contra o aquecimento global e emissão de poluentes. A Agência Espacial Europeia e a Nasa tem emitido dados e imagens de satélites que mostram uma visível redução de dióxido de nitrogênio (NO2), um gás produzido com a queima de combustíveis fósseis e que causa inflamação das vias aéreas, nas cidades e aglomerados industriais na Ásia e Europa.
A inalação do dióxido de nitrogênio pode aumentar o risco de asma, irritação e inflamação dos pulmões. Embora o gás nocivo não seja considerado um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas, o estudo de sua concentração na atmosfera pode ajudar os cientistas a entender os outros gases de efeito estufa que aprisionam o calor e que impulsionam o aquecimento global.
Em fevereiro, imagens de satélite da Nasa mostram a queda drástica de NO2 em Wuhan, província chinesa que se tornou o epicentro da pandemia de Covid-19. No início do mês de março a Agência Espacial Europeia revelou que o mesmo fenômeno estaria acontecendo no norte da Itália, em uma área que está confinada há várias semanas na tentativa de combater o coronavírus. Com fábricas paradas e trânsito quase inexistente, a Itália registrou considerável melhora na qualidade do ar. O mesmo estaria acontecendo em Madri e Barcelona, onde os moradores também estão em isolamento social, segundo a Agência Europeia do Meio Ambiente. Os efeitos da paralização ainda estão sendo observados na América, que começou a seguir de fato orientações para combate à pandemia há poucas semanas, mas que já apresenta melhora no ar. Embora ainda seja cedo para avaliar o impacto das quarentenas nos Estados Unidos, dados coletados em Nova York recentemente sugerem que a instrução do governo estadual para os moradores evitarem deslocamentos desnecessários e ficarem em casa já traz impacto significativo. As emissões de monóxido de carbono caíram cerca de 50% por alguns dias e uma queda de 5% a 10% na concentração de gás carbônico e metano em Nova York também foi observada. Ainda sem análise oficial, o céu de São Paulo também aparenta melhorias.
Segundo o Centro de Pesquisa sobre Energia e Limpeza do Ar, cuja sede está localizada na Finlândia, todas as mudanças observadas na China levaram a uma redução de 25% nas emissões de dióxido de carbono durante quatro semanas entre o final de janeiro e meados de fevereiro, e aponta ainda que as operações industriais foram reduzidas de 15% a 40% em algumas regiões do país. Em alguns setores, o consumo de carvão mineral caiu 36%. O país é o atual campeão mundial dessas emissões.
De acordo com Fei Liu, pesquisadora de qualidade do ar no Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA, esta é a primeira vez que um evento específico causa uma redução tão drástica das emissões de poluentes na atmosfera em uma área tão ampla, deixando claro como a ordem de quarentena teve, ao menos por hora, um impacto positivo. O mundo também está a emitir menos um milhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por dia com a quebra no consumo de petróleo devido à pandemia, indicam dados compilados pela Lusa com base em relatórios internacionais. Com cidadãos resguardados em suas casas, houve uma queda drástica na produção industrial e no uso de veículos com combustíveis fósseis, o que por sua vez reduziu consideravelmente a emissão de poluentes na atmosfera.
Em quarentena há 15 dias, os moradores de Veneza viram pela primeira vez em muitos anos as águas dos canais da cidade ficarem claras – e até golfinhos, cisnes e cardumes de peixes foram flagrados nadando por ali. A imposição de uma quarentena obrigatória não reduziu apenas o trânsito de automóveis e aviões, mas também o de barcos e gôndolas turísticas pelos canais da cidade.
Se o ar poluído é um grande responsável pelo agravamento dos quadros de pacientes com doenças respiratórias é no mínimo bastante curioso observar que o mundo está sendo forçado à atitudes que estão a melhorá-lo, e que isso pode vir a contribuir no combate ao COVID-2019. Vale lembrar que a redução das emissões de poluentes é um efeito colateral da pandemia, que terá seu declínio natural e não vai durar muito mais que alguns meses, mas fica conosco o penoso aprendizado de que é possível, ainda, fazer algo pelo clima.
Por Redação
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