Mostra traz ênfase para o paisagismo e arquitetura desenvolvidos por Burle Marx na cidade de São Paulo, e ressalta o ativismo ambiental e pioneirismo na defesa da preservação dos biomas sul-americanos do paisagista.
A partir de 19 de outubro, o Centro Cultural Fiesp (CCF) recebe a exposição Paisagem construída: São Paulo e Burle Marx, com curadoria de Guilherme Wisnik, Helena Severo e Isabela Ono. Dividida em três eixos principais, a mostra conta com acervo do Instituto Burle Marx, e traz ênfase para projetos de ecologia urbana pensados por Roberto Burle Marx (1909-1994) e seus colaboradores para a cidade de São Paulo, um diálogo entre seus projetos e arquitetos renomados como Rino Levi e Paulo Mendes da Rocha, além de propostas inéditas, não executadas, para espaços públicos da cidade como o Parque Trianon, o Parque Ibirapuera, o Vale do Anhangabaú e a Praça da Sé. A mostra ressalta o ativismo ambiental e pioneirismo na defesa da preservação dos biomas sul-americanos com o pensamento de projetos sobre cidades verdes.
“A partir da contribuição do legado de Burle Marx e seus colaboradores, o Instituto Burle Marx trabalha esse conceito tão atual de construção coletiva. Para nós, o acervo é potente para inspirar e repensar a experiência de vida nas cidades e favorecer óticas plurais, afirmativas e colaborativas” – curadora Isabela Ono.
Na mostra, o público tem a oportunidade de ver os projetos mais icônicos do paisagista e um “Jardim Efêmero” com estruturas verticais na entrada do prédio na Avenida Paulista, desenvolvido pelo escritório Burle Marx, além da exibição de uma animação na fachada do edifício da FIESP. As peças selecionadas para a exposição refletem a pluralidade do trabalho de sete décadas em desenhos, maquetes, plantas de projeto, croquis, fotografias e vídeos; ressaltando a contemporaneidade da narrativa de Burle Marx e do seu legado para se repensar a experiência de vida nas cidades e a construção de espaços públicos.
Débora Viana, Gerente Executiva de Cultura do Sesi-SP, explica que sediar a exposição é uma das formas de reiterar o compromisso que a instituição possui de fomentar o cenário cultural e artístico por meio de obras, de artistas e da participação do público a potenciais de criação, de reflexão e de experimentação. “Para o Sesi-SP, é de extrema importância a formação de novos públicos em artes, a difusão e o acesso à cultura de forma gratuita. Sendo assim, desenvolvemos e realizamos projetos das mais diversas áreas e convidamos o público a imergir no universo do conhecimento e da arte”, declara Débora Viana.
Burle Marx pensava além de seu tempo, já em sua época (40-50 anos atrás) buscava colocar em prática temas tão atuais como a renaturalização das cidades. Era capaz de ter uma visão a longo prazo, tão cara ao desenvolvimento das grandes cidades, que hoje sentem a necessidade de revisar seus modelos e estruturas por conta da intensa impermeabilização do solo e carência de espaços verdes.
Os módulos “Ecologista urbano” e “Projetos em São Paulo” acabam por assumir um tom mais político na mostra, nos quais são apresentados alguns dos projetos elaborados por Burle Marx para a cidade de São Paulo, a pedido do poder público.
“Burle Marx é reconhecido como o mais importante e inovador paisagista brasileiro do século XX. Ao transformar jardins em campos de experimentação da arte moderna, introduziu um novo paradigma, rompendo com a tradição europeia. A exposiçãoPaisagem Construída – São Paulo e Burle Marx apresenta aspectos pouco explorados de sua obra. Burle Marx foi pioneiro na construção do conceito de ecologia Urbana ao introduzir em seus projetos elementos da flora nativa que contratavam com as formas geométricas e duras do concreto. É recorrente dizer que ele apontou para a necessidade de repensar o conceito de cidade a exposição apresenta, também, alguns projetos, elaborados por ele para a cidade de São Paulo não executados: Ibirapuera, Parque Trianon, Praça da Se entre outros”, confirma a curadora Helena Severo. Os três eixos da exposição:
Ecologista Urbano: ativismo pela sustentabilidade – documentos, reportagens, fotos e filmagens das expedições de Burle Marx.
Neste núcleo são apresentados documentos e situações políticas nas quais Burle Marx se envolveu para protestar contra os desmatamentos de florestas brasileiras, sobretudo aqueles realizados pelo governo e por grandes empresas capitalistas. Burle Marx foi um defensor da preservação da natureza e lutava contra a monocultura. “Ele fazia muitos alardes contra a monocultura; como, por exemplo, devastar uma mata rica em espécies e depois plantar somente eucalipto.”, comenta o curador Guilherme Wisnik.
Obras Icônicas: obras relevantes na construção do espaço público, memória-viva de um Brasil moderno e reverente à natureza.
Para este segundo eixo foram selecionadas obras muito importantes para o desenvolvimento e melhorias do espaço público. Poderão ser vistas imagens do extenso calçadão que percorre as praias da Zona Sul carioca; fotos do paisagismo feito por Burle Marx no Parque do Flamengo (RJ) e do Parque del Este em Caracas, na Venezuela, por exemplo. Integra este núcleo uma sala escura sensorial, chamada de “espaço penetrável”, com projeções de imagens sobre tecidos pendurados na sala. A proposta é levar ao público fotografias de jardins e calçadas criadas por Burle Marx e seus colaboradores, oferecendo uma experiência de imersão nas obras notáveis realizadas pelo paisagista através do Escritório Burle Marx. Uma verdadeira experiência sensorial acompanhada pelo som de Tom Jobim – outro grande expoente da cultura moderna brasileira e carioca.
Projetos em São Paulo:
Ocupando a área central da expografia, este núcleo traz um conjunto de obras construídas por Burle Marx e sua equipe no estado de São Paulo, sendo a maioria obras privadas. Aqui o público poderá ver jardins e pisos em edifícios, casas e fazendas; além do diálogo entre projetos executados em parceria com arquitetos renomados de São Paulo, como Rino Levi, Marcello Fragelli, Hans Broos e Paulo Mendes da Rocha. Por fim, serão apresentadas, também, propostas inéditas e não realizadas para espaços públicos da cidade como os projetos para o Parque Trianon, Parque Ibirapuera, Praça da Sé e Vale do Anhangabaú. Um vídeo-animação produzido para a mostra será exibido apresentando os três projetos não executados – Parque Ibirapuera, Praça da Sé e Vale do Anhangabaú –, com fotos aéreas dos espaços como são hoje, e depois uma transição em que aparecem implantações dos projetos de Burle Marx para que imaginemos como os espaços ficariam, junto a uma narração que explica a visualização do percurso.
Sobre Roberto Burle Marx: a partir de Guilherme Wisnik
Burle Marx é uma figura pioneira, esteve sempre à frente de seu tempo em seus projetos, executando ideias que só foram ganhar forma depois de muitos anos, como o emprego de práticas que envolviam sustentabilidade, por exemplo. Sua carreira de paisagista teve início na década de 1930, e seus primeiros projetos foram no Rio de Janeiro. Posteriormente foi para Recife, contratado como Diretor do Departamento de Parques da cidade, e assim deu início a uma carreira sólida como paisagista de espaços públicos. Com os anos foi conquistando reconhecimento internacional e estabeleceu-se como uma sumidade na área.
“Ele [Roberto Burle Marx] se volta para a questão não só do olhar sobre a natureza, da manipulação de certas espécies [de plantas], mas também para a preservação dela. Boa parte da riqueza do trabalho de Burle Marx está ligada ao fato de que ele fez muitas expedições, não só no Brasil, mas na América do Sul, em busca de novas espécies, e de conhecer os ecossistemas. Ele trazia mudas de espécies que ia gostando e conhecendo pelo caminho.”, explica o curador G. Wisnik.
Burle Marx plantou essas mudas em seu sítio, “Santo Antônio da Bica” – hoje conhecido como Sítio Roberto Burle Marx, pertencente ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e localizado em Guaratiba, no Rio de Janeiro. “O sítio foi fundamental porque se transformou em um grande viveiro. Todas essas mudas que ele trazia, ia plantando e cultivando lá; então quando ele criava os jardins dele, tinha acesso a essas plantas, não dependia de plantas que estavam no mercado. E isso deu muito mais liberdade e potencial para os seus jardins.”, comenta Wisnik.
As expedições – para o cerrado e para a Amazônia brasileira, por exemplo -, levaram a uma politização muito grande, porque ele percebeu com isso o quanto a floresta brasileira vinha sendo devastada, começou a fazer grandes manifestos nos jornais. Burle Marx entrou em brigas abertas com grandes capitalistas, como a empresa alemã Volkswagen, nos anos 70, que havia comprado uma fazenda no Pará e desmatou/incendiou a mata para executar sua produção automotiva em larga escala.
Serviço
Paisagem construída: São Paulo e Burle Marx
Curadoria: Guilherme Wisnik, Helena Severo e Isabela Ono
Expografia:Álvaro Razuk
Local: Centro Cultural Fiesp – Av. Paulista, 1313, São Paulo – SP
Período expositivo: 19 de outubro até 05 de fevereiro
Horários de visitação: Quarta a domingo, das 10h às 20h
Entrada gratuita
sesisp.org.br/cultura/
https://centrocultural.fiesp.com.br/
Fonte: a4&holofote e Centro Cultural Fiesp
Imagens: Acervo Instituto Burle Marx e Divulgação