UFRGS é a primeira universidade brasileira a iniciar pesquisa sobre nova tecnologia.
Nas última década, a busca por materiais cimentícios que permitam criar estruturas resistentes e duráveis tem impulsionado o trabalho de pesquisadores no Brasil e no mundo. É nesse contexto que surge o concreto têxtil (textile-concrete, em inglês), material que tem configuração semelhante aos tecidos e que utiliza uma rede formada por polímeros em substituição ao aço no concreto armado.
As vantagens associadas a essa nova tecnologia são muitas. A começar pela possibilidade de moldar o concreto em sessões mais esbeltas e arrojadas, uma vez que passa a ser desnecessário o cobrimento mínimo das armaduras. Mas o maior benefício está relacionado à durabilidade. Afinal, ao dispensar o uso de elementos metálicos, o concreto torna-se isento de corrosão, fenômeno que é o principal redutor de vida útil das estruturas de concreto. Há, ainda, ganhos atrelados à sustentabilidade, decorrentes do fato de as estruturas serem produzidas com menor volume de concreto e terem maior durabilidade.
O concreto têxtil tende a ser aproveitado principalmente pelo segmento de pré-fabricados de concreto, para a produção de elementos em forma de painéis e para peças com sessões mais complexas. Componentes produzidos com concreto têxtil podem ser produzidos com seções transversais de espessura significativamente menores (5-50 mm) do que aquelas produzidas em concreto convencional.
Outra aplicação importante é no reforço e reparo de estruturas corroídas, incluindo em edifícios históricos. “Nesses casos, o concreto têxtil pode recompor de forma muito eficiente a capacidade de carga original, sem implicar em elevação de peso”, comenta Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele lembra que o concreto têxtil pode utilizar fibras de diferentes origens e morfologias, como as de carbono e as de vidro, especificadas em função da necessidade do elemento estrutural resistir a esforços. Segundo ele, os pesquisadores investigam, no momento, como esse novo material se comporta em ensaios de envelhecimento e quando exposto a temperaturas elevadas.
“Com o concreto têxtil, o limite de cobrimento mínimo não será mais pautado pela corrosão, e sim pelo comportamento desejável da estrutura em caso de incêndio” – Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
O futuro do concreto armado
primeira aplicação prática do concreto têxtil está exposta na cidade de Albstadt, no sul da Alemanha. Trata-se de uma passarela com 97 metros de comprimento executada com fios de fibra de vidro para armar os componentes pré-fabricados. A superestrutura com o concreto têxtil pesa aproximadamente 40% menos, em comparação à execução com concreto armado.
Outras obras de referência são a reforma da catedral de Aachen, também na Alemanha, que empregou reforço de argamassa têxtil nos reparos estruturais. O desenvolvimento do concreto têxtil é resultado de um avanço gradativo que vem ocorrendo no desenvolvimento dos materiais poliméricos. Ao longo dessa trajetória, um momento importante foi o desenvolvimento de fios poliméricos por pesquisadores da Universidade Técnica de Dresden, em parceria com o Instituto de Pesquisa Têxtil Saxon, em Chemnitz.
Depois disso, os avanços foram muitos. Tanto é que na Alemanha já há empresa que desenvolve comercialmente concreto têxtil para múltiplas aplicações, especialmente para painéis de fachadas. A próxima etapa nessa linha evolutiva é a formatação de uma nova teoria de dimensionamento estrutural.
“Como ocorre com outros materiais construtivos, o concreto têxtil não é uma panaceia, mas uma solução ótima para algumas aplicações”, pondera o professor da UFRGS. “Para compor uma viga tradicional, por exemplo, sua utilização não faz muito sentido. Mas em peças com geometrias especiais ele pode ser bastante competitivo”, conclui Silva Filho.
Fonte: AECweb
Imagem: Jörg-Singer e Divulgação