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É possível um urbanismo mais amável e inclusivo?

Incorporar mudanças é imperativo para que se alcance os objetivos de uma sociedade mais igualitária e diversa.

 

Criar ambientes urbanos acolhedores tem sido o novo paradigma que se impõe para o urbanismo. As cidades, os bairros e os centros de atividades, independentemente do local em se encontra a população, tem-se como ponto de atenção o senso de comunidade e pertencimento – a identidade do lugar! A criação de ambientes urbanos acolhedores, amigáveis e inclusivos aprimora e traz qualidade de vida aos seus habitantes. Abraçar a maioria das pessoas e suas atividades cotidianas tem sido nominado como o “urbanismo centrado nas pessoas ou “urbanismo humano concêntrico”.” 

Como? As ideias do urbanismo modernista que se impôs no século XX, considerava a separação das atividades e funções urbanas separadas por elementos de distâncias e escalas estabelecidas por legislações condicionantes – os zoneamento urbanos – onde trabalhar e morar estavam separados e necessitariam de elementos de transposição de um espaço a outro para suas funcionalidades por transporte coletivo ou individual. Lembramos que este modelo imperou nas cidades brasileiras, dando origem a “cidades rodoviárias”. 

Quando? Neste momento, na oportunidade de revisão destes conceitos em que a maioria das cidades brasileiras estão revendo seus planos diretores, incluído o urbanismo centrado nas pessoas, estão se impondo o uso misto da funções urbanas para caracterizar não só novas áreas de urbanização mas também a revitalização de áreas urbanas existentes, com atenção especial as denominadas centralidades, onde já há uma demanda explícita, existente –  para que unidades habitacionais passem a estar próximas a locais de trabalho, do comércio e de serviços.

O que? O que se coloca é o que é ser acolhedor? A resposta tem sido encontrada na busca do senso de pertencimento de uma comunidade, em suas identidades! O reconhecimento das unidades de vizinhança onde as atividades possam ter suas funções definidas e claramente expressas nos espaços coletivos. Deve considerar atender todas as faixas etárias, proporcionar encontros e trazer para o que é público – ruas, calçadas, travessias e acessibilidade para todos o sentido comunitário de segurança e bem estar. Deve considerar que o urbanismo seja uma nova oportunidade para um novo bairro ou a revitalização de locais já existentes.

Estamos passando por momentos de travessia, de mudanças propícias para incorporar novos paradigmas. O urbanismo qualifica um território – seja local ou regional. Comparece na proposição de expansão urbana para novas oportunidades de crescimento das cidades. Muitas cidades existentes já atingem municípios limítrofes formando grandes manchas territoriais urbanizadas. Incorporar mudanças é imperativo para que se alcance os objetivos de uma sociedade mais igualitária e diversa.

Como estamos e para onde vamos? Na capacidade de proposições que considerem as cidades para as pessoas! O Livro seminal de Jean Grael – As Cidades para as Pessoas – vem sendo referência para nortear a inclusão de espaços nas cidades existentes e atenção a novas áreas na expansão das cidades. Pede atenção à capacidade de se construir comunidades onde os meios que produzem a mobilidade adequada privilegiem a cidade a pé – as funções do morar, trabalhar e de lazer – encontre os habitantes com acessos confortáveis e transparentes, propiciando o sentimento de pertencimento, de identidade e identificação dos moradores de um local aprazível e atendido em suas funções.  Esta modelagem urbanística traz para o conceito de urbanidade a possibilidade da inclusão de meios de mobilidade individuais e coletivas – do ciclismo ao trem, passando pelos meios intermediários de ônibus e metros – possibilitando que as moradias tenham possibilidades de valores mais acessíveis para grande parte da população. 

Como? Pela disseminação da importância nos projetos de espaços públicos, de espaços para pedestres – melhorias viárias considerando calçadas e ruas seguras, praças e parques. Passa a ter importância o denominado mobiliário urbano para áreas de descanso e contemplação. Igual importância deve ser dada à arborização urbana, a iluminação pública, o piso tátil para as calçadas, as travessias bem demarcadas para pedestre em ruas e, outras formas de inclusão para toda a população. É no espaço público que poderemos encontrar a oportunidade de revitalizar nossos bairros, nos centros e no entorno de equipamentos sociais de educação, saúde e cultura. Novas oportunidades e áreas de expansão urbana devem considerar estas questões no processo de projetação, como parte dos programas de obras, nascendo espaço comunitários e qualificados.

Uma oportunidade? O urbanismo inclusivo deve abordar garantir que pessoas de todas as idades, identidades e origens e habilidades possam desfrutar do espaço coletivo pela adoção do desenho universal que desempenha um papel fundamental nestes objetivos. Rampas para cadeirantes, pisos táteis, sinais sonoros para travessias e para qualquer obstáculo, transporte público adaptado fornecem independência para esta camada da população. A moradia em localizações, tamanhos e valores devem responder a estas oportunidades, dando aos moradores a possibilidade de desfrutar dos benefícios da urbanização. Usos mistos nas edificações, a permanência ou inclusão de comércio e serviços nas proximidades da moradia são fatores que aproximam os moradores e auxiliam no senso de identidade, de pertencimento à localidade.

Espaços públicos promovem conexões sociais e apoiam o engajamento comunitário. Espaços verdes promovem oportunidades de recreação e bem estar criando ambientes saudáveis. A existência ou inclusão de equipamentos sociais como centros comunitários, instalações de escolas, saúde, bibliotecas e outros em atendimento aos moradores promovem o engajamento comunitário em centros de aprendizado, de recreação e atividades culturais.

 

Por Cibele Riva Rumel*

Arquiteta urbanista doutoranda pela Universidade Mackenzie; Mestre em Desenho Urbano pela Rice University, USA; Planejamento Urbano e Regional pela Universidade, USA; Town Planning pela JICA, Japão. Foi presidente do GRAPROHAB – Secretaria da Habitação do Estado de São Paulo e atua em diversos conselhos nas áreas pública e privada. Com premiações nacionais e internacionais, é sócia-diretora do escritório Città Desenvolvimento Urbano e professora no Centro Universitário Belas Artes, na FAAP e FIA-USP.

 

Este artigo faz parte da edição Casa e Mercado Especial Mulheres
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