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Emissões de Carbono: Escopo 3

Escopo 3 inclui as emissões indiretas de atividades relacionadas à cadeia de valor de uma empresa, não se limitando apenas à operação desta, mas sendo estendida à outras empresas onde haja sua participação acionária.

 

As mudanças climáticas são um problema global e todos nós temos a responsabilidade de agirmos e reduzirmos as chamadas emissões de carbono, ou gases de efeito estufa (GEE), os quais, por seu aumento a partir da era industrial, têm se concentrado na atmosfera e a natureza não tem a capacidade de absorver tudo que vem sendo emitido. A partir dessa constatação e estudos, o Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU (Organização das Nações Unidas) vem nos alertando que o potencial aumento da temperatura acima da temperatura de 1,5° C pode trazer sérios riscos, como chuvas em excesso, estresse hídrico, aumento do nível do mar, entre outras consequências.

Trazendo essa informação para o contexto do mundo corporativo, para se tomar medidas de mitigação a esses riscos é preciso partir do “entendimento” das emissões do carbono em suas operações. É primordial mensurar e monitorar os GEE e assim subsidiar, com bases técnicas, as tomadas de decisões.

É necessário endereçar as questões climáticas para evitar risco reputacional, mitigar questões regulatórias futuras, como taxação de carbono, identificar produtos/serviços de baixo carbono na sua cadeia produtiva, evitar perdas e abrir novos horizontes em termos de tecnologias, produtos e procedimentos, entre outras providências.

Diante de tamanho desafio, houve um esforço do WRI (World Resources Institute) e do WBCSD (World Business Council for Sustainable Business), trabalhando juntamente com governos, ONGs, empresas e instituições, para a construção de bases técnicas de mensurações, estabelecendo o GHG Protocol Corporate Standard, que classifica as emissões de GEE de uma empresa em três escopos (1,2 e 3).

O Escopo 1 diz respeito a emissões diretas de fontes próprias ou controladas. O Escopo 2, a emissões indiretas da geração de energia comprada. E o Escopo 3, a todas às emissões indiretas (não incluídas no Escopo 2) que ocorrem na cadeia de valor da empresa.

E a responsabilidade das emissões não se limita apenas à operação da empresa relatora, mas pode ser estendida a outras empresas onde haja sua participação acionária. Portanto, o levantamento das emissões e sua consolidação têm relacionamento proporcional ao tamanho da participação no patrimônio líquido na operação de outras empresas.

Cada vez mais, verifica-se que o impacto produzido na cadeia de valor tem um peso relevante em relação às emissões e por isso o Escopo 3 inclui as emissões indiretas de atividades relacionadas ao chamado “upstream”, ou seja, as emissões relacionadas com os fornecedores de produtos e serviços que foram comprados, e também ao chamado “downstream”, onde a empresa vende seus produtos e serviços.

No lado do “upstream”, encontramos os seguintes itens que podem ser classificados dentro das mensurações da cadeia de valor:

● Compra de bens e serviços – bens de capital: extração, produção e transporte de bens e serviços comprados ou adquiridos pela empresa;

● Aquisição de combustível e energia (não
incluído no escopo 1 ou escopo 2);

● Transporte e distribuição;

● Eliminação e tratamento de resíduos gerados nas operações no ano de referência;

● Viagens de negócios;

● Transporte de empregados (em veículos não pertencentes à empresa);

● Operação de bens alugados pela empresa (locatário) no ano de referência e não incluído no escopo 1 e escopo 2 – relatado pelo locatário.

No “downstream”, temos:

● Transporte e distribuição na venda dos produtos;

● Processamento de produtos vendidos: fabricantes;

● Tratamento dos produtos em seu fim de vida;

● Ativos alugados/arrendados;

● Franquias;

● Investimentos.

 

Outro ponto que temos relacionado ao envolvimento da cadeia de valor é a existência do Padrão de Produto do GHG Protocol, além do Padrão da Cadeia de Valor Corporativa do GHG Protocol (Escopo 3). O primeiro padrão citado aborda o ciclo de vida e o segundo aborda a cadeia de valor, respectivamente. Resumidamente, o Padrão da Cadeia de Valor Corporativa considera as emissões no patamar corporativo e o Padrão do Produto considera as emissões do produto individual.

O Padrão da Cadeia de Valor Corporativa (Escopo 3) ajuda as empresas a identificar oportunidades de redução de GEE, acompanhar o desempenho e envolver fornecedores de âmbito corporativo, enquanto o Padrão do Produto ajuda a empresa a atingir os mesmos objetivos em relação ao produto. Juntamente com o GHG Protocol Corporate Standard, os três padrões fornecem uma abordagem abrangente para medição e gerenciamento de GEE da cadeia de valor.

As empresas descobriram que o desenvolvimento da Cadeia de Valor Corporativa (Escopo 3) e dos inventários de GEE de produtos proporcionam retorno positivo sobre o investimento. Os novos padrões ajudam a reduzir emissões e custos para atender aos objetivos estratégicos de negócios.

Com essas medições, as indústrias poderão desenvolver regras específicas com o objetivo de identificar pontos críticos no ciclo de vida de um produto e concentrar recursos com eficiência, trazer comparações em relação às emissões entre produtos, visando sua competitividade no mercado e se beneficiar com possíveis formas de incentivos que possam surgir.

Os riscos climáticos estão entre os Top 5 no mundo, pela World Economic Forum -WEF, e por isso incentivar a transição dos modelos de negócios para uma economia de baixo carbono requer um olhar estratégico sobre a redução de emissões, que estimula a busca da inovação, pesquisa, desenvolvimento e enfrentamento dos riscos com foco na mitigação e na adaptação de ambientes (cidades, infraestrutura, transportes etc).

É necessário que as empresas identifiquem os pontos críticos em suas cadeias de valor – as atividades que geram mais emissões – e alcançar reduções mais significativas, não apenas dentro de suas operações, mas em todas as cadeias de valor globais.

Esse olhar sobre os riscos pode trazer oportunidades com novas tecnologias, novos produtos, novos procedimentos, com maior eficiência, gerando empregos e aumentando a resiliência das empresas em geral. A contínua busca da descarbonização é um esforço coletivo de transição da sociedade que norteará os investidores e a preferência de consumidores.

 

Por Linda Murasawa *

*Formada pelo ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica e pelo IMT – Instituto
Mauá de Tecnologia, com especialização em Sustentabilidade na Universidade de Cambridge. É especialista em Sustentabilidade, ESG, Clima e Finanças Sustentáveis. Consultora, é sócia da Fractal Assessoria e Desenvolvimento de Negócios.

 

Este artigo faz parte da edição Casa e Mercado Especial Construção – ESG.
Leia na íntegra AQUI!

 

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