Exposição que ocupa o Pavilhão do Brasil reflete sobre recentes descobertas arqueológicas do território amazônico e as condições socioambientais da cidade contemporânea
A Fundação Bienal de São Paulo apresenta a participação do Brasil na 19a Exposição Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia com (RE)INVENÇÃO, que ocupa o Pavilhão do Brasil de 10 de maio a 23 de novembro de 2025, em parceria com o Ministério da Cultura e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Com curadoria dos arquitetos Luciana Saboia, Eder Alencar e Matheus Seco, do grupo Plano Coletivo, o projeto explora a relação dinâmica entre natureza, infraestrutura e prática arquitetônica, abordando as urgências socioambientais da vida urbana contemporânea, propondo um olhar para o Brasil atual, explorando como a arquitetura pode ressignificar territórios urbanos e fomentar práticas mais sustentáveis.
A exposição se desenvolve em dois atos. O primeiro investiga as infraestruturas ancestrais da Amazônia, revelando como as populações indígenas moldaram paisagens há mais de 10 mil anos por meio de técnicas que integravam conhecimento técnico e manejo ambiental. Essas práticas representam uma ocupação equilibrada do território, oferecendo caminhos para repensar as infraestruturas urbanas atuais.
O segundo ato desloca o foco para o Brasil contemporâneo, explorando as nuances das relações entre arquitetura e infraestrutura, assim como as possibilidades de ressignificação da cidade a partir de uma curadoria de pesquisas, processos e práticas em arquitetura. Dessa forma, foca-se o olhar para a possibilidade de reconhecimento e valorização de estratégias e operações projetuais “encapsuladas” na engenhosa produção existente, herdada e apropriada.

“Hoje, sabemos que os povos ancestrais da Amazônia se organizavam em populações muito maiores do que se imaginava anteriormente. As florestas da região são, em grande parte, resultado direto da ação humana, fruto de uma ocupação equilibrada e do manejo cuidadoso da vegetação, em contraste com o modelo predominante na Amazônia atualmente, que com frequência reduz a paisagem a um cenário de devastação.” – Matheus Seco, Plano Coletivo.
A Plataforma-Jardim, uma das estratégias na exposição, retrata como uma estrutura linear com jardim em toda a sua extensão, que anteriormente necessitava de constante irrigação, foi substituída por espécies nativas ou adaptadas à temporalidade do Brasil Central. O jardim naturalista de flores, capins e plantas savânicas nasce, cresce, floresce e seca acompanhando a sazonalidade do bioma do Planalto Central em uma grande plataforma existente de estrutura pré-moldada em concreto protegido. Seguindo essa lógica, outras estratégias são expostas como ações projetuais inventivas que se apropriam do existente, criam identidades e fazem do espaço construído uma oportunidade para se reinventar como realidade.
“Propomos um entendimento de infraestrutura que vai além de sua dimensão física e utilitária, considerando também seu caráter simbólico e social. Na curadoria, destacamos estratégias de projeto que possibilitam múltiplos usos e adaptações ao contexto, buscando transcender a análise de casos específicos para refletir sobre soluções aplicáveis a diferentes realidades” – Eder Alencar, Plano Coletivo.


O espaço da exposição foi projetado pela equipe curatorial a partir de elementos mínimos que se utilizam da estrutura do Pavilhão do Brasil como suporte para reconfigurar seus espaços internos. Na primeira sala, todos os elementos da instalação se apoiam no chão. Na segunda, a instalação é construída a partir do equilíbrio de painéis de compensado, pedras usadas como contrapesos e cabos de aço que formam um sistema que, percorrido por forças de ação e reação, mantém-se suspenso e estável. Dessa forma, os materiais da instalação podem ser remontados ou reciclados em novas formas de aproveitamento após a exposição.
Já Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, aponta que o conceito curatorial e o projeto arquitetônico de Saboia, Seco e Alencar trazem uma reflexão fundamental sobre a urgência climática e a necessidade de repensarmos nossa relação com o meio ambiente. “(RE)INVENÇÃO nos convida a aprender com as práticas ancestrais, explorando a simbiose entre humanos, terra e natureza como um caminho para um futuro mais sustentável. A participação do Brasil na Bienal de Veneza, fruto de uma parceria frutífera com o Governo Federal, destaca a importância de estratégias que conciliam um compromisso real com o planeta.”

A mostra dialoga diretamente com o tema geral desta edição, intitulada Intelligens. Natural. Artificial. Collective., proposto pelo curador italiano Carlo Ratti, que convida os países participantes a refletirem sobre a intersecção entre inteligência natural e artificial, compreendendo esses dois eixos como parte de uma esfera expandida que integra arte, engenharia, biologia, ciência de dados, ciências sociais e políticas, ciências dos sistemas planetários e outras disciplinas – ligando cada uma delas à materialidade do espaço urbano. A proposta brasileira responde a essa provocação ao examinar como as diferentes formas de conhecimento – tanto ancestrais quanto contemporâneas – moldam os territórios e as dinâmicas urbanas.
A prerrogativa da Fundação Bienal de São Paulo na realização da representação oficial do Brasil nas bienais de arte e arquitetura de Veneza é fruto de uma parceria de décadas com o Governo Federal, que outorga à Fundação Bienal a responsabilidade pela nomeação da curadoria e pela concepção e produção das mostras em reconhecimento à excelência de seu trabalho no campo artístico-cultural. Organizadas com o intuito de promover a produção artística brasileira no mais tradicional evento de arte do mundo, as exposições ocorrem no Pavilhão do Brasil, projetado por Henrique Mindlin e construído em 1964. A Fundação Bienal de São Paulo agradece seus patrocinadores máster: Itaú, Bloomberg, Bradesco, Petrobras, Instituto Cultural Vale, Citi e Vivo.

Serviço
Pavilhão do Brasil na 19a Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia
Comissária: Andrea Pinheiro, Presidente da Fundação Bienal de São Paulo
Curadoria: Luciana Saboia, Eder Alencar e Matheus Seco [Plano Coletivo]
Colaboradores: André Velloso, Carolina Pescatori, Cauê Capillé, Daniel Mangabeira, Guilherme Lassance,
Henrique Coutinho, Sérgio Marques [Plano Coletivo]
Local: Pavilhão do Brasil
Endereço: Giardini Napoleonici di Castello, Padiglione Brasile, 30122, Veneza, Itália
Data: 10 de maio a 23 de novembro de 2025
Pré-abertura: 8 e 9 de maio