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IF Design Award 2024 premia o design sustentável

Em Berlim, prêmio alemão concede três medalhas de ouro a projetos brasileiros que buscam impacto positivo ao usar o design para melhorar o mundo

 

No último dia 29 ocorreu a cerimônia de entrega dos prêmios do iF Design Award, o mais antigo e importante selo de design independente do mundo, que este ano laureou 71 projetos brasileiros, incluindo três iF Gold Award, troféu máximo da premiação.

Importante destacar que dos três reconhecimentos na categoria ouro, todos tinham a sustentabilidade como linha central de desenvolvimento. Alguns designers brasileiros que foram agraciados com prêmios em outras categorias também focavam no desenvolvimento de ideias promotoras de impactos positivos. Confira abaixo os três destaques iF Gold Award:

 

Escola Campana

o Pharus Design apresentou o projeto de rebranding, ou reformulação, da marca Campana, criada pelos irmãos Humberto e Fernando Campana, estes lendas do design brasileiro. Num momento em que a sustentabilidade ocupa um espaço cada vez maior no processo de criação e desenvolvimento de produtos e marcas, como destacou Cremering em sua fala no evento, o nome Campana aparece como pioneiro e guia desse movimento de promover o design como solução para problemas globais, como as mudanças climáticas e as desigualdades sociais.

Vivi Kano, criativa líder do escritório, destacou como os Campanas trouxeram, ainda na década de 90, conceitos modernos de produção. “Eles diziam que os materiais não eram os objetos, eles ‘estavam’ os objetos. O sentido é que tudo pode ser formulado e reformulado, num processo circular contínuo”, afirmou Kano.

A nova identidade ressalta essas características do trabalho dos irmãos e busca representá-las nas formas, cores e nos elementos tipográficos da marca Campana, e reforça na comunicação o pioneirismo da dupla. O prêmio é também uma homenagem da IF Design a Fernando Campana, que morreu em 2022.

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Vivi Kano e Luca Bacchiocchi, do Pharus Design: legado dos Irmãos Campana materializado em formas, cores e tipografias.

 

Design contra mudanças climáticas

o estúdio VCA, de São José dos Campos (SP), uniu o desenho inspirado nas formas da floresta com a tecnologia para criar um sistema de monitoramento de indicadores ambientais voltado à proteção de matas nativas. O trabalho aproveita o ecossistema de produção industrial da cidade, sede da fabricante de aeronaves Embraer, para adicionar funcionalidades e melhorar a usabilidade de bons produtos pensados por engenheiros.

O Treevia Smart Forest é resultado de um trabalho conjunto entre o VCA e a Treevia Technologies, empresa de tecnologia focada em sistemas de monitoramento florestal. Ele aproveita as capacidades de equipamentos simples, utilizados em grande escala nas fazendas de eucalipto, mas adiciona funcionalidades, como sensores, viabilizadas pelo design. Victor Colhado, fundador do VCA, destaca a importância desse tipo de colaboração: “Nós levamos um olhar diferente aos engenheiros, o que nos permite pensar em diferentes usos para uma tecnologia. A chave é ter curiosidade e fazer perguntas”, afirma.

As caixinhas do Smart Forest são instaladas em árvores por meio de uma fita autoajustável, e coletam dados de temperatura, humidade, precipitação etc. O sistema de análise dos dados, criado pela Treevia, conta com uma interface amigável, que facilita a visualização das informações. Colhado também pensou no desenho da caixa que protege os circuitos de forma a reduzir o uso de plástico e facilitar seu manuseio, além, é claro, de ser agradável aos olhos.

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Victor Colhado (ao centro) com sua esposa, filha e a equipe do VCA no palco do IF Design: parceria entre engenharia e design para gerar novas ideias.

 

Em memória

O terceiro brasileiro gold da noite traz algumas reflexões de maneira lúdica, tendo como ponto de partida o desastre de Brumadinho. Em 2019, o rompimento de uma barragem da mineradora Vale na cidade mineira deixou um rastro de destruição e causou a morte de 272 pessoas. A empresa foi condenada, e fez uma série de acordos com autoridades que a obriga a indenizar as vítimas. Entre eles, o compromisso de construir um memorial para manter viva a memória da tragédia, um exemplo material dos prejuízos que a negligência corporativa com a responsabilidade socioambiental pode gerar.

O projeto vencedor, assinados pelos escritórios Greco Design e Blackletra e projetado pelo arquiteto Gustavo Penna, propõe uma jornada meditativa por entre flores de ipê em aço, uma para cada vítima, luzes e natureza viva. “É importante, numa sociedade cada vez mais rápida e tecnológica, manter essas conexões com o aspecto transcendental da vida, com o que é sagrado e imaterial”, comenta Gustavo Greco, que assina o design.

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Gustavo Greco: memorial para as famílias de Brumadinho propõe uma jornada medidativa entre aço e natureza para manter viva a memória do desastre.

Cofundador do aclamado escritório Furf, Rodrigo Brenner segue a tradição dos Campana de pensar em formas naturais e usar novos materiais. Brenner foi agraciado com o prêmio IF Design, uma categoria abaixo da gold. O projeto apresentado ressignifica a tradição de espalhar as cinzas de entes falecidos no mar, um desejo de muitos. Ele desenvolveu uma urna funerária biodegradável, que se dissolve lentamente na água salgada. É uma forma poética de homenagear os mortos e refletir sobre a fluidez da vida, a inevitabilidade da morte, imaterialidade e materialidade da alma e do corpo.

Batizada de Sale, a urna tem o formato de um barco de papel e sua matéria-prima é obtida a partir do micélio, elemento que, apesar do nome remeter a algum metal do tipo do nióbio, é totalmente orgânico. O micélio é um emaranhado de fibras que dá sustentação e alimenta fungos, como os cogumelos – para quem já cultivou shitake ou shimeji, é a parte branca embaixo da camada de terra. O material foi desenvolvido pela Mush, startup brasileira criada por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná.

 

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Rodrigo Brenner (à esq.), Ubiratan Sá (à dir.) e a equipe da Mush: pesquisa científica aliada ao design viabiliza a introdução de novos materiais sustentáveis.

 

No palco do IF Design Awards 2024, Dieter Rams recebeu um reconhecimento especial pela carreira, uma das trajetórias mais influentes do segmento. É a primeira vez que a instituição concede esse tipo de honraria.Pode-se compreender sua relevância ao dizer que muitos produtos da Apple, entre eles o iPod e o iMac, foram inspirados em suas criações.

Rams aproveitou o momento para fazer um pedido. “Façam design para melhorar o mundo”, afirmou, ao receber o prêmio das mãos de Uwe Cremering, CEO da IF Design. Os projetos premiados mostram que os designers, ou ao menos uma parte deles, já levam o conselho de Rams a sério. Especialmente os brasileiros!

 

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Dieter Rams, ao centro, recebe o prêmio da IF Design: “Façam design para melhorar o mundo”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Exame
Imagens: Rodrigo Caetano

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