O designer de joias Antonio Bernardo fala sobre a inovadora linha Atmosfera, em parceria com a Portobello.
Inovação é o principal valor da Portobello. O conceito de Inovação Aberta nos leva a cocriar com grandes nomes da arquitetura e do design. Essas colaborações podem ser, inclusive, multidisciplinares. É o caso da mais recente parceria com o designer de joias carioca Antonio Bernardo. A admiração da Portobello pelo seu trabalho é de longa data, pelo traço autoral e brasileiro.
Após um longo ano de desenvolvimento, que envolveu o uso de tecnologias nunca antes exploradas, lançamos em fevereiro de 2020 a linha Atmosfera, que combina, de maneira pioneira, porcelanato e metal. Confira, em uma entrevista exclusiva, o que Antonio Bernardo e Letícia Silva De Stefano, gerente do seu departamento de desenvolvimento de criação, acharam do processo e do resultado final.
Qual a sua relação com a arquitetura?
Antonio Bernardo: Eu me lembro de ir para o colégio de ônibus, quando criança, no Rio de Janeiro. Eram trajetos longos. O Brasil está sempre em construção, tem sempre uma obra perto de você. É raro o lugar que você vá e já esteja tudo pronto. No Rio de Janeiro, estávamos vivendo o momento dos prédios com pilotis. Cada arquiteto se esmerava para fazer um projeto mais interessante com pilotis. Eu acompanhava isso tudo, andando de ônibus. Tinha um prédio que só tinha uma coluna central. Eu ficava encantado com essas coisas, gostava muito. Eu acompanhava, de uma maneira simplória, porque não era por leitura. Mas era meu olhar, o que eu observava nas coisas.
E com o design de produto?
Antonio Bernardo: Produto também, sempre acompanhei, desde criança. Nos anos 1950 e 1960, o Rio de Janeiro era a capital da República. Todas as embaixadas ficavam no Rio de Janeiro. O pessoal das embaixadas todo ano trocava de carro. Menino tem uma ligação forte com automóvel. E todo ano tinha modelos novos, aqueles rabos de peixe maravilhosos, de filme. Aquelas banheiras enormes. Era um fascínio para mim. Eu ficava pensando por que mudou, agora o farol é deitado, antes o farol era em pé. Coisas da minha cabeça, que eu fico pensando até hoje. Tenho fascínio por muita coisa de design de produto.
Você já fez algumas parcerias. Gosta de trabalhar além do universo das joias?
Antonio Bernardo: Eu gosto de fazer parcerias porque é um estímulo externo. Temos os nossos estímulos internos, mas quando fazemos uma parceria temos estímulos externos, vamos entrar em contato com algo que não conhecemos. Só conheço eventualmente como consumidor, mas não conheço as entranhas daquele produto. Então para mim é muito interessante. É mais interessante ainda quando de fato é uma parceria. No caso da Portobello, houve uma integração muito grande entre o que eu propus, os desafios dessa proposta e como eles encararam esses desafios. Isso foi muito bacana.
O desenvolvimento da linha Atmosfera levou um ano. O seu processo de criação costuma ser longo?
Antonio Bernardo: Às vezes eu faço uma parceria e o produto já sai praticamente pronto, mas não foi o caso da Portobello. Foi um ano de desenvolvimento. Eu propus coisas que ainda não haviam sido utilizadas pela empresa. Foi bacana como eles se debruçaram nesse desafio de conseguir realizar o que eu havia concebido. Foi longo porque estávamos caminhando em espaço desconhecido. Quando se está navegando por mares desconhecidos é assim mesmo, vai e volta, vai e volta.
Qual a diferença entre criar joias e revestimentos?
Letícia Silva De Stefano: Nossa equipe de design passou por todo um processo interno, que depois foi para a Portobello, para a Portobello realizar no contexto deles. Os nossos trabalhos são muito diferentes. É outro dia a dia, outro material, outra escala, outra função.
Como ocorreu o convite da Portobello? Houve um briefing para um produto específico?
Antonio Bernardo: Pior é que o convite veio totalmente aberto (risos).
Letícia Silva De Stefano: A gente foi conversando e a única coisa que a gente imaginou foi que o metal estivesse presente. Porque o metal é o nosso material. Seria muito interessante juntar o metal e o porcelanato, pois o metal é nosso objeto de trabalho e o porcelanato é o objeto de trabalho da Portobello.
O que inspirou a linha Atmosfera?
Antonio Bernardo: A Portobello já tinha em seu portfólio um filete de metal. Quando eu vi isso, pensei em desenvolver o metal de outras maneiras, que eles ainda não tinham desenvolvido. A inspiração também foi nosso próprio trabalho com joias. Decidimos que algumas joias nossas teriam a possibilidade de ser utilizadas no material deles. Na realidade, não as joias representadas, mas os raciocínios que utilizamos para fazer as joias. Nós solicitamos que eles olhassem nosso portfólio e selecionassem algumas peças que eles se identificassem
Como foi o processo de desenvolvimento até chegar nos desenhos finais?
Letícia Silva De Stefano: Fizemos vários estudos, que foram evoluindo. A gente fez experiências ordenadas, com padronagens e aleatórias. O Antonio pedia para que soltássemos mais a forma, fomos soltando, evoluindo.
Antonio Bernardo: O lúdico é uma marca do meu trabalho. Eu não queria ir pela padronagem. Não queria que a parede ficasse tão sólida, eu queria mais fluido. Leve, solto. As minhas joias também são leves. Na primeira vez que eu fui visitar a fábrica, observei que tudo era duro, plano e de ângulo reto. Me causou muita impressão. Eu tentei trabalhar isso. Do ângulo reto não conseguimos escapar, mas com os painéis tiramos ele de evidência. Quando eles viram os protótipos que nós fizemos ficaram encantados.