Inaugurada em 2025, obra de forte simbolismo transforma o local em um espaço de memória, reflexão e resistência coletiva
Seis anos após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Minas Gerais, o Memorial Brumadinho foi inaugurado, em 25 de janeiro de 2025. Projetado pelo escritório Gustavo Penna Arquiteto & Associados (GPA&A) e erguido no próprio cenário da tragédia, o espaço foi concebido em colaboração com os familiares das vítimas, com o propósito de preservar memórias, acolher o luto e promover a reflexão sobre o ocorrido.
A obra, que abriga um bosque com 272 ipês amarelos (plantados em homenagem a cada uma das vítimas fatais), um espaço meditativo, uma escultura-monumento, uma drusa de cristais, duas salas de exposição (Memória e Testemunho), além de um espaço dedicado à guarda digna e honrosa dos segmentos corpóreos das vítimas, foi contemplada recentemente com o prêmio internacional Architecture Hunter Awards 2025, na categoria Projeto Social. O projeto já integrou como finalista no Dezeen Awards 2024, um reconhecimento que também reflete a relevância do trabalho realizado pelo escritório em nível internacional.
A entrada conta com um pavilhão de concreto pigmentado com rejeitos da mineração, que remete às consequências do rompimento. No interior, uma drusa de cristais simboliza as vítimas, chamadas de “joias” por seus familiares. No dia 25 de janeiro, às 12h28, um feixe de luz atravessa o espaço e ilumina os cristais, marcando o momento exato da tragédia.
O percurso principal consiste em uma fenda de 230 metros, direcionada ao ponto do rompimento da barragem. Ao longo do trajeto, os nomes das 272 vítimas estão gravados nas paredes laterais. No ponto central, uma escultura quadrada de 11m x 11m se eleva como uma cabeça suspensa sobre o percurso. Sua forma inclinada e instável representa a fragilidade da condição humana diante da tragédia. De seus olhos geométricos, a água escorre pelas paredes de concreto, formando um véu líquido. Esse fluxo segue até um espelho d’água sob um mirante, onde a paisagem transformada pelo desastre pode ser contemplada.
O memorial inclui ainda o Espaço Memória e o Espaço Testemunho, concebidos em colaboração com os familiares. Esses ambientes guardam registros da tragédia, como fotos e objetos pessoais das vítimas. Também abrigam os segmentos corpóreos recuperados, em um espaço projetado para garantir respeito e dignidade.
Segundo Gustavo Penna, o projeto busca preservar a memória da tragédia e impedir que ela seja esquecida. O memorial convida à reflexão sobre as consequências do rompimento da barragem e a importância da preservação da vida e do meio ambiente. Com uma abordagem direta, sem excessos formais, propõe estabelecer uma conexão entre arquitetura, luto e justiça histórica.
Divulgação Gustavo Penna Arquiteto & Associados (GPA&A)
Imagens: Jomar Bragança