Convivência. Essa é a palavra que permeia conceitualmente 4 criações selecionadas pela CM.
Que o Design vai muito além da forma e funcionalidade já se sabe. No campo da criação, ele pode ser inusitado e vir a propor o que não se conhece, isso chamamos de inovação. Mas no campo afetivo, seu maior valor está no relacionamento que ele incentiva estabelecer-se entre objeto e usuário, na comunicação que paira entre as funções práticas das linhas, nas sensações de materialidade, na coexistência harmoniosa e no belo observável, que agrada aos olhos e a alma.
Objetos que tragam certa história, que contem algo sobre determinada cultura, técnica e localidade, que representem uma ideia, são os que mais propõem zelo e melhor interagem com nossos hábitos e rotinas diários. Que o desenho seja além do comum ou a proposta ousada, quando o Design resgata elementos sensíveis, familiares, e os configura tridimensionalmente com afeto, só nos cabe mesmo usufruir.
MESA ALMA
Muitos produtos são feitos de materiais inovadores, tecnológicos ou inusitados. Mas a peça criada pela designer Roberta Rampazzo é feita com a sobra de um dos materiais mais nobres do planeta, a madeira. Segundo ela, nobre porque vem da natureza, traz beleza e acolhimento e é um elemento que tem vida. Peça feita em acrílico e sobras de madeira certificada, a designer sugere uma interpretação além, paralela à expressão humana: a parte interna como representação das emoções, suas irregularidades e contrastes, e a parte externa como algo mais rígido, definido e racional, mas que ao mesmo tempo, através desta moldura, expõe a Alma para o mundo.
De objetos marcados por um traço simples e forte, Roberta desenha de forma cuidadosa para que se suas peças se tornem únicas e eternas. Ao criar, ela acredita que um bom design deve conter fatores além da forma, função e beleza, mas elementos que transmitam emoção ao usuário.
“O processo começa com a inspiração. Quem trabalha com criatividade está sempre em atividade. O que você aprende com o tempo é sintetizar suas ideias e direcioná-las para um caminho. Gosto de saber que estou desenhando um objeto que vai contribuir para o bem estar físico e emocional de alguém.” – Roberta Rampazzo
POLTRONA MARESIAS
Inspirada na natureza, a peça inicialmente tinha nome de passarinho: Tim. O designer Carlos Motta planejou um móvel versátil, resistente às intempéries das áreas externas, especificando trançados de percintas especiais tanto para o assento como para o encosto. Depois, desenvolveu novas peças e criou uma linha completa, premiada, produzida em escala industrial pela parceira Butzke. De linhas delicadas e beleza atemporal, Maresias é uma peça sustentável, com estrutura de madeira certificada e percinta em material reciclado.
Buscando alinhar qualidade e elegância ao uso de materiais corretos de procedência certificada e conceito sustentável, Carlos tem como premissa criar um objeto agradável, afetivo, que resulte em si um processo de fabricação consciente e respeitosa, desde a matéria prima até a mão de obra.
“Há uma responsabilidade ambiental e social para a arquitetura e o design: usar a matéria-prima correta, desenvolver técnicas construtivas responsáveis e que toda cadeia produtiva participe do lucro. É importante que o resultado final tenha afeto.” – Carlos Motta
TALL CACHE CABINET
A palavra ‘Cache’ em francês significa esconder. De forma quase abstrata, a designer Zoë Mowat permite que uma cor específica, um material ou um gesto inicie um conceito de design. A intenção era criar uma peça de armazenamento vibrante que servisse de esconderijo para itens valiosos. Surgiu, inconscientemente, um móvel à sua semelhança: de pé sobre pernas e possuindo sua própria altura, com um núcleo central e compartimento secreto no topo. Tall Cache Cabinet tem quatro pernas altas e consiste em três espaços de armazenamento coloridas, personalizável. Há um espaço projetado na parte superior da peça para armazenamento oculto.
Através de uma manipulação escultural e intuitiva de cor, forma e material, Zoë busca compreender e responder às relações únicas que formamos com os objetos quais nos cercamos. Sua abordagem é uma produção artística impulsionada pelo interesse à experiência humana.
“Móveis são uma coisa íntima, projetados para nossos corpos e formas específicas de viver. Sinto que é importante realmente considerar o significado de um objeto e implicações potenciais ao desenvolver um trabalho.” – Zoë Mowat
LATTICE
Um armário normalmente é colocado perto da parede e as pessoas o enfrenta de frente. Suas portas e alças de acesso tem destaque e causam grande impressão. No entanto, de acordo com o designer japonês Daisuke Kitagawa, a ideia era criar um design simples e não ativo, que se misturasse com seu entorno: um móvel sem um manuseado óbvio. Inspirado pela arquitetura tradicional japonesa e pelas Shojis, portas translúcidas construídas a partir de uma moldura fina de madeira e uma grade estrutural na qual o papel japonês é colado, o designer idealizou as portas do Lattice de forma que o gesto da mão fosse um elemento completar. Implementando a Shoji e substituindo o papel japonês por têxteis, a peça ganhou prateleiras móveis, sendo possível alterá-las de acordo com o armazenamento.
Buscando não se envolver em projetos por pura novidade, mas sim agregar valor à experiencia do usuário, Daisuke tem como objetivo criar a sensação de durabilidade e interatividade, projetando móveis simples e confortáveis no espaço, que estejam em harmonia com a vida cotidiana das pessoas.
“Projeto com sinceridade e cuidado, tentando apresentar valores e conforto usando de novas perspectivas e métodos que não estavam disponíveis no passado, enquanto presto total respeito à história e ao que foi cultivado por nossos antepassados.” – Daisuke Kitagawa
Por Redação
Imagens: Hisashi Kudo, Carlos Mancini, Coey Kerr e divulgação.