Repletos de significados!

A CM conversa com 6 designers brasileiros em destaque e propõe um olhar mais profundo sobre suas criações.

 

Para a especialíssima Edição Luxo, a Casa e Mercado buscou investigar mais profundamente a premissa conceitual de alguns nomes do Design em destaque no cenário atual, criadores que emprestam suas percepções pessoais a cada novo objeto elaborado e configurado.
Os profissionais dividiram conosco um pouco sobre seus processos criativos e destacaram peças icônicas para representar seus trabalhos e legado.

 

 

Essencialmente curioso

Identificar as lacunas para poder, de alguma maneira, expressar a própria percepção de mundo, as próprias verdades por meio de produtos, materiais e espaços e estar sempre atento, entendendo os movimentos, mas não os seguindo, é o que orienta o processo criativo de Jader Almeida. Manter uma consistência inovadora, não apenas nas questões formais, mas também nas funções, nos materiais e nas novas tecnologias, tem sido a linha condutora de sua produção. Ávido por vivências e pesquisas, de modo a experienciar o mundo, o premiado designer acredita que alimentar uma base de energia criativa é multiplicar as coisas e, apesar das referências estarem em todos os lugares, muito de sua inspiração está associada ao ato de fazer, no pensamento projetual: desenhos infinitos, modelagens, testes, mock up’s, maquetes e protótipos, até chegar em uma conclusão construtiva que resulte num produto silencioso que cumpra todas suas as funções, sejam elas prosaicas ou poéticas. Para Jader, dominar o processo como um todo é contemplar desde o mínimo detalhe, que é constituído pelo micro, até o macro do qual se lê a arquitetura, gerando valores tanto para o campo da fabricação, pesquisa e indústria, quanto para o campo da sociedade, pessoas e cultura.

“ Sempre que alguém se propõe a fazer algo relevante em sua jornada é muito importante manter a consistência, no entendimento e atendimento às necessidades das pessoas e considerar a maneira com que elas se relacionam com os objetos. Entendê-las na essência é conhecer todas as questões condicionadas ao nosso tempo, é trazer produtos que vestem a casa, totalmente funcionais, porém poéticos. Todo objeto interfere na nossa vida; está compondo um espaço, está transmitindo alguma coisa. Minha inspiração é o mundo, o contexto, tudo se conecta e contribui para algo.” – Jader Almeida

POLTRONA MAY

Com proporções equilibradas e conforto generoso, é para ser utilizada em diversos ambientes, como salas, quartos, lobbys. A poltrona foi pensada para pessoas que conduzem escolhas de consumo inteligentes, valorizam as premissas do bom design, como atemporalidade, durabilidade e ergonomia. Estruturada em madeira maciça natural ou tingida, o conforto extremo do estofado revestido em tecido ou couro alinhado às formas escultóricas da madeira, em linhas contínuas, fluidas e elegantes que parecem abraçar, sugerem um convite ao repouso.

 

CABIDEIRO LOOSE

Feito em madeira maciça, o cabideiro se destaca não só por seu aspecto funcional, de atender a uma necessidade, mas, também, por ser uma peça instigante, com um apelo estético que transcende seu uso

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Despertar sensorial

A Fahrer valoriza o trabalho feito à mão, o estilo brasileiro, as relações humanas e a sustentabilidade. Há mais de 20 anos a marca elabora designs criativos por meio dos olhares e traços dos designers Sergio Fahrer, Jack Fahrer e Heloisa Samaia, criando peças com as singularidades que um trabalho manual pode proporcionar. As peças e as formas como são expostas buscam compartilhar e valorizar a expressão artística, o diálogo crítico, poético e inspirador, focando na inovação, no desenvolvimento de novas técnicas produtivas e no uso de materiais de qualidade que despertem experiências sensoriais. Em incansável experimentação, a marca acredita que o design precisa atender às expectativas estéticas de forma congruente com o conforto, unindo forma e função de maneira compatível com a necessidade humana.
“Nosso trabalho como designer é criar peças genuínas, que dialogue com o seu contexto e criem histórias. Essa interação com o espaço e o tempo são essenciais à Fahrer. É daí que saem as ideias, da constante experimentação e da vivência do atual. Queremos representar isso e fazer com que as experiências sensoriais sejam reflexivas, amadurecendo em consonância com as experiências da vida.” – Fahrer
BANCO TAMANDUÁ
Vencedor do Prêmio Ouro do Objeto Brasil, o banco Tamanduá foi inspirado no Tamanduá Bandeira. Feito em madeira multilaminada curvada, o modelo representa muito do trabalho da Fahrer: o ponto de vista atual, a busca por provocar experiências sensoriais que representem uma expressão artística e um diálogo com a realidade.
CADEIRA TOÁ
A paixão pela madeira curvada, pela inovação e pela pesquisa é característica da marca. A Cadeira Toá recebeu o prêmio “Top One of the Year” pela revista londrina “IdFX” em 2008 por seu design e ergonomia. Um clássico da linha de mobiliário, é feita em tauari maciço e multilaminado curvado com lâmina de madeira natural.
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Físico e Emocional

De objetos marcados por um traço simples e forte, Roberta Rampazzo desenha de forma cuidadosa para que se suas peças se tornem únicas e eternas. Ao criar, acredita que um bom design deve conter fatores além da forma, função e beleza, mas elementos que transmitam emoção ao usuário. Roberta é formada em Desenho Industrial e está no mercado há 20 anos desenhando sua própria linha de móveis e também para empresas como Decameron, Firma Casa, Mosarte, Objekto, Vermeil e outras. Com trabalhos divulgados em mais de 30 países, participou de feiras, prêmios e exposições internacionais e nacionais. Premiada pelo Design Award German e Design Award Nominee, para ela o design sempre representou mudanças e os aspectos sociais e econômicos de uma época.
“O processo começa com a inspiração. Quem trabalha com criatividade está sempre em atividade. O que você aprende com o tempo é sintetizar suas ideias e direcioná-las para um caminho. Gosto de saber que estou desenhando um objeto que vai contribuir para o bem estar físico e emocional de alguém.” – Roberta Rampazzo
TURNING POINT
Em definição simples, “turning point” é o momento que uma mudança decisiva ocorre, especialmente aquela com bons resultados. Graficamente, é uma peça com linhas que se unem, criam forças e seguem adiante. De acordo com a designer, a peça simboliza uma grande virada, a esperança e certeza de um futuro melhor. Feita em aço carbono com pintura eletrostática, possui tampo em pedra, em opções diversas.
LESS IS MORE
O simples, muitas vezes, é o mais difícil de ser atingido. A designer parte da premissa de que para ser simples é necessário eliminar os excessos e o desnecessário, resultando em uma vida mais leve, elegante e sustentável. Como a representação de um novo cotidiano, isso vale também para o design. A peça é feita em madeira maciça sustentável Jequitibá e tecidos, em opções diversas.
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Reverenciando a natureza

Buscando alinhar qualidade e elegância ao uso de materiais corretos de procedência certificada e conceito sustentável, Carlos Motta tem como premissa criar um objeto agradável, afetivo, que resulte em si um processo de fabricação consciente e respeitosa, desde a matéria prima até a mão de obra que o concebe, tendo como foco principal enaltecer a natureza e trazer reflexões sobre o uso de um dos seus elementos mais preciosos: a madeira. Carlos formou-se em Arquitetura e posteriormente estudou marcenaria, elaborando trabalhos de criatividade intuitiva e objetiva. A estética brasileira e a preocupação com um design conectado à sustentabilidade chamou a atenção do mundo, levando seu trabalho para exposições e distribuição em vários países, além de prêmios como o Hors Concours Museu da Casa Brasileira e o Planeta Casa.

“Há uma responsabilidade ambiental e social para a arquitetura e o design: usar a matéria-prima correta, desenvolver técnicas construtivas responsáveis e que toda cadeia produtiva participe do lucro. É importante que o resultado final tenha afeto. O que me interessa na madeira, por exemplo, é a vida, a textura, o cheiro. O convívio com ela é uma coisa muito agradável.” –  Carlos Motta

POLTRONA RADAR

Especialmente desenvolvida para a exposição “Used and Reused Wood: Furniture by Carlos Motta”, em Nova York, a peça confirma a tendência de técnicas construtivas artesanais e a reutilização de materiais nobres e de qualidade próprias do designer. Feita em Peroba Rosa de redescobrimento e em ferro oxidado, a poltrona giratória foi também escolhida pela curadora de artes Adélia Borges, para participar da exposição “Design Brasileiro Hoje: Fronteiras”, que aconteceu no MAM, em São Paulo, 2009.

CM

 

POLTRONA ASTÚRIAS

Segundo o designer, a peça é bastante emblemática e representativa dos conceitos do Atelier, sendo uma síntese de tudo àquilo que acredita e que sempre o direcionou: reaproveitamento de madeiras, pouquíssimos insumos industriais (somente cola e parafuso), atemporalidade, estética simples e elegante, qualidade, ergonomia, longevidade e identidade brasileira. Da poltrona, surgiu a Linha Astúrias, prolongando o mesmo conceito para Sofá, Chaise Longue e Ottoman e a versão de balanço faz parte do acervo permanente do MUDE (Museu do Design e da Moda) – Lisboa, Portugal

Sensibilidades interativas

Criar objetos, obras, instalações, arquiteturas que despertem sensações potentes e diversas, adicionando camadas poéticas no espaço que aproximem as pessoas e as façam refletir, as despertem para algum propósito para além da estética e da função, é a principal proposta criativa de Guto Requena. O designer acredita que pontos de partida sempre são perguntas, garantindo que nós estejamos constantemente curiosos e dispostos a criar. A prática de pesquisa é essencial para seu processo, aliando teoria à projeto. Valorizando o uso das tecnologias de informação e comunicação para criar uma arquitetura e design emocionais, nos quais ambientes, obras e produtos interativos e híbridos podem responder a estímulos, sensibilizar e promover maior conexão entre as pessoas, Guto materializa em seus projetos uma união harmoniosa entre afeto e tecnologia. Formado em Arquitetura e Urbanismo, foi durante anos pesquisador do NOMADS.USP, Centro de Estudos de Habitares Interativos da Universidade de São Paulo, obtendo um mestrado com a dissertação Habitar Híbrido: Interatividade e Experiência na Era da Cibercultura. No Estudio Guto Requena busca com sua equipe criar olhando para o presente, mas sempre pensando no futuro, em como a nossa sociedade se comportará e quais serão as novas demandas. 

“Minha principal inquietação como designer sempre foi sobre o uso de novas tecnologias. Muitas pessoas as observam como entraves ou barreiras de afeto, eu as observo como ferramentas de aproximação, criadoras de emoções para estimular empatia e senso de coletividade. Minha grande paixão está em mesclar o mundo analógico com o virtual. Precisamos pensar qual o papel do design frente ao momento em que estamos vivendo, qual o futuro que queremos construir.” – Guto Requena.

AURA

Quando você conta a história de amor de sua vida, seu corpo reage fisicamente às suas emoções. Aura Pendant é um aplicativo que captura essas emoções para moldar uma joia exclusiva feita de ouro maciço 18k, ouro rosé ou prata, com cerca de 2,5cm de diâmetro. O aplicativo captura as emoções na voz e mede os batimentos cardíacos através do pulsar nos dedos e os dados emocionais coletados controlarão o comportamento das partículas (velocidade, espessura, atração e repulsão) para dar forma à um design único e singular em forma de mandala. Com tecnologia de impressão 3D, a mandala se transforma em um pingente.

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PAVILHÃO DANÇANTE

O Pavilhão é uma arquitetura Interativa temporária criada para o Parque Olímpico 2016, feita com cerca de 500 espelhos redondos que giram, abrem e fecham, criando efeitos ópticos. O edifício possuí uma pele arquitetônica interativa: o lado de fora, metálico, é composto de diversas cores, que simbolizam diversidade; por dentro existe uma gigante superfície de espelhos que materializam como seria dançar dentro de um globo de espelhos de discoteca, com sensores que captam a agitação dos visitantes e transformam a fachada, como se o externo reagisse aos estímulos gerados internamente. Sob o Sol, esse prédio cinético cria grafismos de luz e sombra no piso e no seu entorno. A noite, com as luzes, o edifício explode de modo dramático para fora.

GR

 

 

Interpretações experimentais

Designer autodidata, o foco de Bianca Barbato sempre foi um desenho mais autoral com produções elaboradas e minuciosas, criando linhas tanto com edições limitadas, produzidas pelo seu estúdio, até as industriais, fabricadas e comercializadas em maior escala por outras marcas. Trabalhando com diversas matérias-primas e investigando-as a fundo, a designer acredita que é durante as pesquisas dos métodos de fabricação que surgem as descobertas do que o croqui vai virar de fato, através do entendimento às possibilidades e limitações do processo construtivo e da descoberta de como cada material se comporta durante este trajeto. Bianca fundou seu estúdio em 2008 no Rio de Janeiro e seus produtos são comercializados em 30 pontos de venda pelo Brasil. Já participou de diversas exposições, mostras e feiras, lançando anualmente novas coleções.

“Os materiais e as técnicas geralmente são os protagonistas e meu ponto de partida, permeando do artesanal ao industrial. Algumas influências e inspirações vem também da curiosidade de como se faziam as coisas antigamente ou que me remexem memórias afetiva, trazendo consigo certo poder de nostalgia e acolhimento. Aprendi sempre com a prática dos erros e acertos, com a mão na massa, visitando as fábricas e artesões, observando e respeitando o modo deles fazerem, procurando através da experimentação sair do lugar comum para além do que pode ser uma peça utilitária.” –  Bianca Barbato

COLEÇÃO CIDADE

A coleção tem geometria que confunde o olhar para além da racionalidade e sentido, propondo jogos de sombras em tons variados de espelhos cristal (rosé, bronze, fumê e comum) e seus caminhos que beiram o surreal e a ilusão de ótica. As peças tem fundo em folha natural de madeira.

 

COLEÇÃO LIXO

A quantidade de resíduos que geramos põe em questão os conceitos relacionados à sustentabilidade nesta série. Essa releitura ressignifica as embalagens descartáveis que serviram de matriz para os moldes que reproduzem os “lixos”, feitos em latão fundido. A série inclui esculturas, luminárias e mesa de centro.

Bianca Barbato @EdouardFraipont
Por Redação
Imagens: Divulgação SOLLOS, Rafael Frazão, Luciana Dal Ri, Edouard Fraipont e Divulgação.

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