Desde o início do século XXI, observa-se uma retomada visível e crescente do uso da madeira, impulsionada por incentivos à industrialização do setor e ao emprego de práticas de construção sustentáveis.
Construir com madeira significa projetar e executar obras com um material fornecido pela natureza, que é constantemente reposto. Árvores precisam apenas de água, CO2 e luz solar para crescerem. Extraem o gás carbônico da atmosfera, combinando-o com água na forma de carboidratos e liberando oxigênio. O uso da madeira na construção tem como vantagem a retenção de CO2 por longos períodos, o que contribui para a redução das emissões desse gás, um dos principais causadores do efeito estufa.
Amplamente disponível em florestas ao redor do mundo, a madeira é utilizada pela humanidade há milhares de anos. Diferentes culturas desenvolveram técnicas construtivas específicas, adequadas às espécies de árvores e ao clima de cada região, combinadas aos hábitos e ferramentas locais.
Com o surgimento e o desenvolvimento de métodos construtivos que utilizavam materiais como ferro, aço, concreto e plásticos, impulsionados pelo processo de industrialização e pela facilitação do transporte em longa distância, seu uso entrou em declínio a partir do século XIX.
Foi na década de 1970, quando o debate sobre ecologia ganhou destaque nos países desenvolvidos e começou a busca pela redução do consumo de energia e do impacto da indústria da construção civil no meio ambiente, que se iniciaram estudos sobre o uso da madeira em larga escala. Desde o início do século XXI, observa-se uma retomada visível e crescente do uso da madeira, impulsionada por incentivos à industrialização do setor e ao emprego de práticas de construção sustentáveis, avaliadas por programas de certificação e ESG.
A carpintaria artesanal cedeu espaço para empresas que utilizam modelagem computacional na etapa de projeto, máquinas de comando numérico e ferramentas robotizadas na fabricação de peças precisas, além de processos mecanizados de montagem na obra, o que garante controle de qualidade, redução de prazos e previsibilidade de custo.
Com a evolução dos estudos sobre incêndio e durabilidade do material, bem como o aumento da oferta de produtos de madeira engenheirada, como MLC, CLT e LVL, tornaram-se viáveis edifícios de maior porte, com grandes vãos e edifícios altos.
Os programas arquitetônicos tradicionais – habitações unifamiliares, galpões, pontes e torres – modernizaram-se e se expandiram para novos usos, como escolas, ginásios, templos, hangares, edifícios multifamiliares, comerciais e de serviços. No Brasil, apesar de algum atraso, já dispomos de recursos técnicos equivalentes aos dos grandes centros.
Ainda é necessária a ampliação da escala, o que é perfeitamente possível com o ordenamento e alinhamento dos setores da cadeia produtiva: plantio, beneficiamento, academia, especificadores, executores e investidores. Já se percebem investimentos em todos os setores mencionados, apontando para um ciclo virtuoso de ampliação do uso da madeira na construção civil e a consequente expansão desse mercado no futuro próximo.
Nosso país tem vocação florestal, com extensas áreas disponíveis para plantio, insolação e regime pluviométrico abundantes. Há um caminho natural para o protagonismo brasileiro neste ramo da construção. Cabe a nós percorrê-lo.
*Por Vini Barreto, Diretor de Projetos da ITA Engenharia em Madeira.