Poltrona Escandinava de Balanço em Jacarandá

Exposição 150 anos Liceu de Artes e Ofícios na Galeria Teo

Com curadoria realizada por Guilherme Wisnik, a iniciativa abre espaço para 100 peças de mobiliário das décadas de 30 a 80, desenvolvidas pelos alunos do Liceu de Artes e Ofícios, que comemora 150 anos em 2023.

 

Em parceria com o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, a Galeria Teo convida para a Exposição Liceu de Artes e Ofícios 150 anos, em continuidade à mostra realizada durante a SP-Arte 2023, Festival Internacional de Arte de São Paulo, que aconteceu entre os dias 29 de março e 02 de abril. A exposição será aberta ao público de 12 de abril a 30 de junho, na Galeria Teo, localizada na Rua João Moura 1298.

A curadoria, assinada por Guilherme Wisnik, busca traçar um paralelo entre a arquitetura e as peças elaboradas; dentre as quais, algumas foram encomendadas por designers por conta da qualidade de execução das peças, mas também, pela matéria prima utilizada para sua confecção.

 

EXPOSICAO LICEU DE ARTES E OFICIOS GALERIA TEO
Poltrona Escandinava de Balanço em Jacarandá | Década de 1960 | Liceu de Artes e Ofícios | 68 X 94 X 76H cm

 

LICEU: A EXCELÊNCIA DO FAZER | TEXTO GUILHERME WISNIK

O selo azul colado nos móveis do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo sempre foi um atestado de qualidade. O primado da excelência na fabricação de cadeiras, poltronas, mesas, estantes e aparadores remonta à sua origem manufatureira, ligada à tradição dos mestres de ofício na Europa. Ao mesmo tempo, a criação da instituição, em 1873 – inicialmente denominada Sociedade Propagadora de Instrução Popular –, por iniciativa da elite paulistana, esteve vinculada à vontade de formação de mão de obra para a indústria nascente.

Abrigando ao mesmo tempo escola e oficina voltada para o mercado, o Liceu passou a atender encomendas tanto para os palacetes da burguesia quanto para importantes obras públicas, confeccionando caixilhos, portões, frisos e até mesmo estátuas monumentais. Oferecendo mão de obra gabaritada em suas oficinas de marcenaria e serralheria (que incluíam ebanisteria e fundição de metais finos), a instituição se destacou pela qualidade do fazer, que atendia ao gosto variado dos clientes, abarcando desde os florais ornamentados do Art Nouveau e do Ecletismo até as linhas retas e sóbrias do modernismo. É nessa última fase, iniciada nos anos 1950, que essa exposição se concentra.

A grande tradição brasileira no campo do mobiliário explorou o uso da madeira, reforçada no período moderno pelos trabalhos de figuras como Joaquim Tenreiro, Zanine Caldas, Sérgio Rodrigues e Jorge Zalszupin, dentre outros. Esse é também o caso do Liceu, cujos móveis são feitos em madeiras nobres, como o jacarandá da Bahia e a imbuia, trazendo muitas vezes, como marcada de estilo, destacadas peças oblongas de travamento em cunha, feitas de faixas horizontais de jacarandá e marfim imperial. Uma bela maneira de se destacar os vínculos construtivos das peças, afastando-se já da noção de ornamento, que tanto guiou a sua produção até aquele período.

O trabalho nas oficinas do Liceu executava tanto o desenho de projetistas de fora quanto aqueles que eram realizados internamente, e que constituem o foco desta exposição. Mas a ênfase dos projetos do Liceu nunca foi a invenção formal, e sim a decantação de padrões de linguagem construtiva lentamente assimilados ao longo do tempo, e depurados sobre as noções de estabilidade e elegância.

Num tempo em que o design autoral se destaca cada vez mais, os móveis do Liceu demonstram a qualidade de uma produção anônima e de caráter coletivo. Assim, à medida que o desenho de mobiliário no Brasil vai se aproximando – pelo traço autoral, e pela ainda tímida serialidade da sua produção – do caráter idiossincrático da obra de arte, as peças fabricadas pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo reafirmam o ethos do trabalho coletivo, apoiado no binômio que a fundou: artesanato e indústria. “

 

Sobre o Liceu de Artes e Ofícios

O Liceu de Artes e Ofícios figura entre as instituições de ensino mais antigas da cidade de São Paulo e  integra a tradição de liceus em cidades diversas do mundo. Trata-se de uma instituição privada e que até hoje  oferece ensino técnico em áreas diversas, além de Ensino Médio regular. Em sua origem era destinada a  formar mão de obra, oferecendo conhecimentos necessários às artes e ofícios, ao comércio, à lavoura e às  indústrias.

Sob a direção de Ramos de Azevedo, em 1895, o Liceu deu um salto para se tornar uma espécie de escola de belas artes, e passou a produzir mobiliário, além de peças artísticas e decorativas. Temos como  exemplo, a produção de tecidos da casa dos imigrantes Wagih e Maria, moradores da mansão de esquina  da Av. Paulista, 1811, o mobiliário do edifício Altino Arantes (também conhecido como edifício Banespa)  do arquiteto-engenheiro Plínio Botelho do Amaral, o Monumento às Bandeiras, o lustre no saguão do  Teatro Municipal de São Paulo, o Monumento a Duque de Caxias entre muitos outros. Por lá, passaram  pessoas como Victor Brecheret, Alberto Santos Dumont, entre outros.

Depois, nos anos 1950, em linha com a modernização promovida por Juscelino Kubitschek, o Liceu  abandona a produção artesanal e passa a desenvolver mobiliários e peças industriais, como esquadrias em  aço inoxidável. São frutos dessa nova fase industrial: execução das esquadrias do MASP; execução de  parte do mobiliário do Aeroporto Internacional de Cumbica; produção dos caixas-automáticos 24 Horas;  entre outros.

Por fim, as peças produzidas atualmente são valorizadas por sua qualidade  indiscutível, tendo sido usadas em edifícios e casas importantes, como o Hotel de La Plage, no Guarujá, o  Theatro Municipal de São Paulo e a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. No dia 14 de dezembro de 1873, Leôncio de Carvalho e mais 130 aristocratas da cidade de São Paulo  fundaram a Sociedade Propagadora da Instrução Popular. Essa associação educacional privada, fundada  com o apoio da maçonaria, tinha como objetivo inicial as primeiras letras aos filhos de camponeses e operários.

Nove anos depois de sua fundação, a instituição passa por uma reformulação total. Os cursos  profissionalizantes, utilizando como modelo a experiência europeia, são introduzidos no currículo a partir  do dia 1 de setembro de 1882. Nesse dia, a instituição passa-se a chamar Liceu de Artes e Ofícios de São  Paulo.

No final do século XIX, o diretor-geral Francisco de Paula Ramos de Azevedo foi responsável por uma  reforma administrativa e curricular. O arquiteto italiano Domiziano Rossi integra o corpo  docente do Liceu, tornando obrigatório o estudo de cunho renascentista, principalmente nos ornatos, o  que influenciou as construções paulistas até cerca de 1920.

 

EXPOSICAO LICEU DE ARTES E OFICIOS ANOS GALERIA TEO
Par de poltronas em Jacarandá, 69 X 64 X 71 H, década de 50 | Sofá 3 lugares com mesas ripadas em Jacarandá, 249 X 70 X 71 H, década de 50 | Mesa auxiliar quadrada em metal com ripas em Jacarandá, 68 X 68 X 35,5 H | Fotografia: Ramanaik Cunha Bueno

 

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Mesa quadrada para jogos e cadeira atribuídos ao Liceu de Artes e Ofícios | Fotografia: Ramanaik Cunha Bueno

 

No ano de 1900, o Liceu muda-se para a sua sede na Av. Tiradentes, no bairro da Luz. Em 1905, o prédio passa a abrigar a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Além das exposições de arte, havia galerias que exibiam permanentemente os trabalhos realizados pelos alunos nas oficinas-escolas. As manufaturas, com o intuito de manter a escola, eram vendidas ao público. A redução das importações decorrentes das duas Guerras Mundiais contribuiu para o crescimento industrial do Liceu, verificando-se um aumento no consumo dos produtos nacionais. Por ser um grande divulgador e realizador do estilo art-nouveau, o Liceu recebeu o prêmio St. Louis Universal Exhibition.

Conflitos políticos das décadas de 1920 a 1930 interromperam as atividades da instituição e causaram  sérios prejuízos materiais. O Liceu foi ocupado pelos batalhões nos movimentos revolucionários de 1924,  1930 e 1932. Em 1945, sofreu mais prejuízos com um incêndio ocorrido em sua sede.

Em 1946, a escola é transferida para o terreno localizado na Rua João Theodoro, onde funcionavam as oficinas. Na década de 1970 ocorre uma reforma curricular e na década seguinte é fundado o Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, quando estreia o espetáculo de luz e som Multivisão, com roteiro do crítico Olívio Tavares de Araújo.

Atualmente, o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, instituição de ensino particular, filantrópica e sem fins lucrativos, une a tradição – que o consagrou como um dos principais colégios do país – com as mais inovadoras metodologias educacionais, pautadas na utilização das tecnologias, mas também, na preparação dos alunos para o mercado de trabalho e para o ingressar nas universidades brasileiras e internacionais.

 

SERVIÇO

GALERIA TEO | EXPOSIÇÃO LICEU DE ARTES E OFÍCIOS 150 ANOS
PERÍODO DA EXPOSIÇÃO | 12 DE ABRIL A 30 DE JUNHO
ENTRADA GRATUITA
Galeria Teo | Rua João Moura 1298, São Paulo SP 05412-003 Brasil
+55 11 3063-1939
Segunda à sexta das 09h às 18h – sábado das 10h às 14h
https://casateo.com.br/ @ galeriateo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagens: Divulgação

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