Orgânico e GENTIL

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Hortas comunitárias, transformação alimentar e a ressignificação do espaço urbano.

 

Hortelão é aquele que trata de uma horta. Sinônimo de Horticultor, se ocupa com o cultivo de verduras, legumes, plantas ornamentais, flores e frutas. Cultivar uma horta é sem dúvida uma forma de contribuição para o desenvolvimento sustentável em vários níveis, desde promover serviços ambientais e maior conscientização sobre a importância de consumir alimentos frescos e livres de agrotóxicos, até suprir necessidades e demandas sociais, incentivando uma participação pública colaborativa.

Mais de 80% da população vive em áreas urbanas e acabou se desconectando de todo o ciclo do alimento, perdendo a habilidade de plantio e também o hábito frequente de cozinhar. O comportamento alimentar, com aumento do consumo de alimentos industrializados, prontos e fast-foods, tem deixado a desejar no quesito nutrição: apenas 23% dos brasileiros consomem a recomendação diária de frutas, verduras e legumes (400/dia segundo a OMS), sendo que a má alimentação é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como hipertensão, diabetes e câncer.

 

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As hortas urbanas, sejam elas domésticas ou comunitárias, têm a capacidade catalizadora de reunir, conectar as pessoas com o alimento saudável e causar transformações socioeducativas; mesmo que os espaços sejam pequenos e as hortas singelas, a simbologia da iniciativa ultrapassa qualquer dimensão. Na cidade, o plantio coletivo e voluntário de plantas comestíveis no espaço público promove revitalização local, troca de experiências e minimiza o complexo mecanismo orquestrado de produção-transporte-distribuição, adotado atualmente pela indústria alimentícia, refletindo em uma alimentação mais nutritiva, variada e econômica.

A agricultura urbana tem sido apontada pela FAO, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, como estratégia fundamental para a segurança alimentar, para a estabilidade social e para a preservação do meio ambiente nos grandes centros urbanos do planeta.

Os benefícios são muitos: biodiversidade, fornecendo alimento e abrigo para a fauna local, sendo o manejo agroecológico capaz de regenerar o solo e restaurar sua capacidade de absorção de água, abastecendo os lençóis freáticos e melhorando a umidade do ar; o aumento de área verde, aberta aos cidadãos; educação ambiental e comunitária, restabelecendo o sentido da partilha do espaço, do trabalho, da colheita e do cuidado com o território; reconexão com a natureza e a produção do alimento; prática de compostagem, gestão de resíduos e, consequentemente, redução de lixo orgânico e emissão de gases na atmosfera. 

 

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A CM conversou com o Pé de Feijão, negócio de impacto com o objetivo de transformar a relação das pessoas com a comida através de ações que informem e orientem, tendo as hortas urbanas, a cozinha e a compostagem como plataformas centrais de trabalho. De acordo com Mariana Marchesi e Marina Ferreira, hortas urbanas encurtam distâncias entre a produção e o consumo de comida de verdade, atribui responsabilidade e gera menor impacto ambiental.

 

“No que toca à relação com a cidade, as hortas comunitárias transformam completamente a experiência da cidadania, devolvendo ao cidadão o poder de intervir e transformar o seu próprio território, além de resgatar e promover o valor da solidariedade. Uma experiência em que o cidadão vive o território e age sobre ele, sentindo-se parte.” – Pé de Feijão

 

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Foto Pé de Feijão Horta nas alturas varanda do Escritório Barilla

 

Muito dos problemas relacionados à qualidade de vida nas cidades concerne à forma de como elas se desenvolveram. O ambiente urbano se caracteriza pelo concreto, pela velocidade, pelo oposto à natureza, características acentuadas graças ao crescimento intenso e desordenado, sem planejamento adequado. A prática da agricultura urbana sugere superar o distanciamento entre espaços públicos e privados, vegetação e concreto, indivíduo e coletivo, promovendo o respeito às regras locais e aos outros usuários.

A transformação do espaço, mudando práticas individuais para coletivas, carrega consigo um comportamento mais holístico e integrado. Além da melhoria na qualidade de vida, um sentimento de colaboração para com a natureza e para com o outro é plena, e não só bem alimenta ao corpo, mas à alma. O mundo tem hoje muitos agricultores urbanos e, ao contrário do que parece, as grandes cidades estão cheias de espaço para as hortas.

Como cita o documentário Revolução da Horta Caseira, da ONG Urban Homestead, ser capaz de cultivar alimentos é algo muito poderoso e talvez uma das capacidades mais “perigosas” que existe aos mecanismos do mundo moderno: pois corre-se o risco de gerar liberdade. Sejam educativas ou produtivas, as hortas urbanas agroecológicas trazem essa proposta e mostram às pessoas que é possível produzir alimentos sem veneno, de baixo custo e com as próprias mãos, sem agredir o meio ambiente.

 

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O telhado do Shopping Eldorado abrange projeto sustentável multifuncional: compostagem com o objetivo de dar destino ecologicamente correto ao lixo orgânico gerado diariamente em suas praças de alimentação, produção de legumes e verduras destinados ao abastecimento dos próprios restaurantes e reuso da água que escorre dos ares- condicionados para irrigar a horta.

 

 

 

 

 

 

 

Por Redação
Imagens: Stéphanie Durante, Horta das Corujas e divulgação.