Expectativa para a COP-26 reacende debate sobre o mercado de carbono

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Se regulamentado, as discussões sobre o artigo sexto do Acordo de Paris podem colocar o Brasil como um dos maiores fornecedores do mundo de crédito de carbono

 

Apontado como uma das principais apostas para driblar a crise econômica gerada pela covid-19, mas ainda sem consenso global, o mercado de carbono é um dos assuntos mais esperados da última década e, caso seja regulamentado, pode se tornar importante fonte de investimento para o Brasil. Essa é a defesa da especialista em Direito Socioambiental Samanta Pineda.

A advogada explica que, com a aproximação da COP-26 (Conferência das Nações Unidas sobreas Mudanças Climáticas), agendada entre os dias 1 e 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, é chegada a hora dos Países que assumiram grandes responsabilidades durante a COP-21 prestarem contas e apontarem os avanços relacionados ao artigo sexto do Acordo de Paris.

O tratado, criado em 2015 e discutido por mais de 190 nações, substituiu o Acordo de Kyoto, que já havia tentado implementar mecanismos de desenvolvimento limpo, e visa reduzir o aquecimento global – isso inclui, principalmente, esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C, em relação aos níveis pré-industriais. Além disso, tem o propósito de proporcionar mais cooperação entre a sociedade civil e o setor privado e, entre outros pontos importantes, regulamentar o mercado de compra e venda de créditos de excedentes de redução de emissões.

 

“Essas revisões ocorrem a cada cinco anos. Então, a expectativa é que o mundo fale sério e regulamente esse mercado oficialmente em novembro. Como o mecanismo de desenvolvimento limpo apresentado pelo Acordo de Kyoto não aconteceu, e sem a presença de um mercado oficial mundial de carbono, passou a ser
executado um mercado voluntário, onde, sem exigências legais, as empresas que emitem, compram daquelas que não emitem. Por isso que a expectativa em Glasgow é tão grande” – Samanta Pineda, especialista em Direito Socioambiental.

 

Se aplicado, a troca de ITMOs (Resultados de Mitigação Internacionalmente Transferidos), prevista no artigo 6.2, mas ainda pouco definida, será uma boa oportunidade para o Brasil – inclusive para a iniciativa privada. Isso porque o termo faz referência a transferências de resultados de emissões ou remoções de gases de efeito estufa de um País para o outro. Havendo consenso, ganha quem tem potencial para excedente de NDC (em português: Contribuição Nacionalmente Determinada). A sigla envolve compromissos voluntários criados por cada país signatário do Acordo de Paris para colaborar com a meta global de redução de emissão. E os dados estão a favor do Brasil.

Ainda de acordo com Samanta Pineda, esses países que emitem precisam pagar para quem emite menos, no caso o Brasil. “Nós temos um grande potencial de captação de gases de efeito estufa e a gente precisa desse mercado regulamentado”, finaliza a advogada, lembrando que o território brasileiro tem capacidade de ser um dos maiores fornecedores do mundo em crédito de carbono.

 

Brasil no mercado de carbono

Segundo um levantamento feito em 2018 pelo Seeg (Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa), que avaliou as nações que mais provocam desequilíbrios no efeito estufa, o Brasil aparece bem abaixo de regiões como a China, Estados Unidos, União Europeia e Índia. Naquele ano, ocupou a sétima posição do ranking e emitiu 1,9 gigatonelada de carbono.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Juliana Rangel
Imagem: Divulgação

Ar URBANO

Redução das emissões de poluentes à atmosfera e melhora do ar é efeito colateral da pandemia COVID-19.

 

Ironicamente, a pandemia do COVID-19 (Coronavirus Disease 2019) vem causando impacto positivo na luta contra o aquecimento global e emissão de poluentes. A Agência Espacial Europeia e a Nasa tem emitido dados e imagens de satélites que mostram uma visível redução de dióxido de nitrogênio (NO2), um gás produzido com a queima de combustíveis fósseis e que causa inflamação das vias aéreas, nas cidades e aglomerados industriais na Ásia e Europa.

 

A inalação do dióxido de nitrogênio pode aumentar o risco de asma, irritação e inflamação dos pulmões. Embora o gás nocivo não seja considerado um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas, o estudo de sua concentração na atmosfera pode ajudar os cientistas a entender os outros gases de efeito estufa que aprisionam o calor e que impulsionam o aquecimento global. 

 

Em fevereiro, imagens de satélite da Nasa mostram a queda drástica de NO2 em Wuhan, província chinesa que se tornou o epicentro da pandemia de Covid-19. No início do mês de março a Agência Espacial Europeia revelou que o mesmo fenômeno estaria acontecendo no norte da Itália, em uma área que está confinada há várias semanas  na tentativa de combater o coronavírus.  Com fábricas paradas e trânsito quase inexistente, a Itália registrou considerável melhora na qualidade do ar. O mesmo estaria acontecendo em Madri e Barcelona, onde os moradores também estão em isolamento social, segundo a Agência Europeia do Meio Ambiente. Os efeitos da paralização ainda estão sendo observados na América, que começou a seguir de fato orientações para combate à pandemia há poucas semanas, mas que já apresenta melhora no ar. Embora ainda seja cedo para avaliar o impacto das quarentenas nos Estados Unidos, dados coletados em Nova York recentemente sugerem que a instrução do governo estadual para os moradores evitarem deslocamentos desnecessários e ficarem em casa já traz impacto significativo. As emissões de monóxido de carbono caíram cerca de 50% por alguns dias e uma queda de 5% a 10% na concentração de gás carbônico e metano em Nova York também foi observada. Ainda sem análise oficial, o céu de São Paulo também aparenta melhorias.  

 

China

 

Segundo o Centro de Pesquisa sobre Energia e Limpeza do Ar, cuja sede está localizada na Finlândia, todas as mudanças observadas na China levaram a uma redução de 25% nas emissões de dióxido de carbono durante quatro semanas entre o final de janeiro e meados de fevereiro, e aponta ainda que as operações industriais foram reduzidas de 15% a 40% em algumas regiões do país. Em alguns setores, o consumo de carvão mineral caiu 36%. O país é o atual campeão mundial dessas emissões. 

 

De acordo com Fei Liu, pesquisadora de qualidade do ar no Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA, esta é a primeira vez que um evento específico causa uma redução tão drástica das emissões de poluentes na atmosfera em uma área tão ampla, deixando claro como a ordem de quarentena teve, ao menos por hora, um impacto positivo. O mundo também está a emitir menos um milhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por dia com a quebra no consumo de petróleo devido à pandemia, indicam dados compilados pela Lusa com base em relatórios internacionais. Com cidadãos resguardados em suas casas, houve uma queda drástica na produção industrial e no uso de veículos com combustíveis fósseis, o que por sua vez reduziu consideravelmente a emissão de poluentes na atmosfera. 

 

poluição na Itália capa

 

 

Em quarentena há 15 dias, os moradores de Veneza viram pela primeira vez em muitos anos as águas dos canais da cidade ficarem claras – e até golfinhos, cisnes e cardumes de peixes foram flagrados nadando por ali. A imposição de uma quarentena obrigatória não reduziu apenas o trânsito de automóveis e aviões, mas também o de barcos e gôndolas turísticas pelos canais da cidade.  

 

Se o ar poluído é um grande responsável pelo agravamento dos quadros de pacientes com doenças respiratórias é no mínimo bastante curioso observar que o mundo está sendo forçado à atitudes que estão a melhorá-lo, e que isso pode vir a contribuir no combate ao COVID-2019. Vale lembrar que a redução das emissões de poluentes é um efeito colateral da pandemia, que terá seu declínio natural e não vai durar muito mais que alguns meses, mas fica conosco o penoso aprendizado de que é possível, ainda, fazer algo pelo clima.  

 

 

 

Por Redação
Imagens: Divulgação